sábado, 14 de setembro de 2019

«O mar começa aqui»

             «O mar começa aqui» foi o mote de uma campanha lançada pela empresa municipal Cascais Ambiente.
            No ofício, datado de 9 de Julho, mas que só chegou bastantes dias depois à caixa de correio dos tutores de bairro, explicava a vereadora Joana Pinto Balsemão que esta era a segunda fase de uma campanha que se iniciara a 22 de Março, Dia Mundial da Água. Pintaram-se, então, em «cerca de 500 sarjetas» quatro mensagens, com o objectivo de recordar que as sarjetas e os sumidouros se destinavam a «canalizar as águas da chuva para o mar». Tinha, pois, plena razão de ser a frase «O mar começa aqui».
            Na sequência dessa afirmação, vinha, pois, a advertência para que se não utilizassem as sarjetas e os sumidouros para neles se depositarem resíduos, «como é o caso das betas e dos papéis, as águas sujas de diversos tipos de lavagens e os resíduos provenientes de obras, como tintas e solventes», tudo detritos que muito contribuem para poluir os oceanos.
            Custa-nos ver, na verdade, que – junto a papeleiras ou mesmo a caixotes de lixo e, até, ecopontos – há quem deite pró chão aquilo que, com um pouco mais de cuidado, poderia facilmente ser depositado nos recipientes próprios, que, a maior parte das vezes, até estão mesmo ali, à mão de semear.
            Uma questão de cultura, dir-se-á; ou, se se preferir, de instrução. E, amiúde, há quem imagine ser também algo que tem a ver com o poder económico: são os pobres uns desleixados, sem educação… Lamento que assim possa pensar-se. E exemplifico. Passeio amiúde com o meu cão no Parque da Pampilheira. É um parque de estacionamento automóvel gerido pela Mobi Cascais, carote, que serve os utentes do Hospital CUF. Parte-se, pois, do princípio, que os seus frequentadores têm estudos, não fizeram apenas a antiga 4ª classe, muito carro topo de gama, de matrícula recente… Dir-vos-ei que, apesar das papeleiras dispersas por ali, topo, pelo chão e pelos canteiros, garrafas de plástico, beatas, sacos plásticos, resto de farnéis, para além, diga-se, abundantes detritos de canídeos em plenas faixas de rodagem…
            Voltemos, porém, à campanha «O mar começa aqui». A segunda fase decorreu a 12 de Julho. Não pude participar, por não me encontrar no concelho e não pude igualmente incitar os meus vizinhos a participarem, devido ao facto de só em cima da hora dela ter tido conhecimento. É que, na verdade, a ideia era genial: falar com o pessoal do bairro, designadamente aqueles de aptidões artísticas, a pintarem adequadas mensagens nas sarjetas. Não se especificava, no folheto que acompanhava o ofício da senhora vereadora, que frases poderiam ser, mas adivinha-se. Para mim, a melhor era mesmo: «O mar começa aqui». Não só porque é verdade, mas também porque – confesso – cada vez gosto menos de proibições. «Não deite lixo na sarjeta», «Não atire beatas pró chão», «Não despeje água suja»… Proibições, mensagens negativas… Tanto «não» acaba por aborrecer. E depois, se não despejo aqui, então onde é que eu despejo?
            É isso: a mensagem positiva, a incitar a fazer bem – precisa-se!… Até lhe dá gosto obedecer!                                                          

                                         José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 293, 2019-09-04, p. 6.

Elucidativo o desenho; negativas, as mensagens: «não», «não», «não»...

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