No
ofício, datado de 9 de Julho, mas que só chegou bastantes dias depois à caixa
de correio dos tutores de bairro, explicava a vereadora Joana Pinto Balsemão
que esta era a segunda fase de uma campanha que se iniciara a 22 de Março, Dia Mundial
da Água. Pintaram-se, então, em «cerca
de 500 sarjetas» quatro mensagens, com o objectivo de recordar que as sarjetas
e os sumidouros se destinavam a «canalizar as águas da chuva para o mar».
Tinha, pois, plena razão de ser a frase «O mar começa aqui».
Na
sequência dessa afirmação, vinha,
pois, a advertência para que se não utilizassem as sarjetas e os sumidouros
para neles se depositarem resíduos, «como é o caso das betas e dos papéis, as
águas sujas de diversos tipos de lavagens e os resíduos provenientes de obras,
como tintas e solventes», tudo detritos que muito contribuem para poluir os oceanos.
Custa-nos
ver, na verdade, que – junto a papeleiras ou mesmo a caixotes de lixo e, até,
ecopontos – há quem deite pró chão aquilo que, com um pouco mais de cuidado,
poderia facilmente ser depositado nos recipientes próprios, que, a maior parte
das vezes, até estão mesmo ali, à mão de semear.
Uma
questão de cultura, dir-se-á; ou, se se preferir, de instrução. E, amiúde, há quem imagine ser também algo que
tem a ver com o poder económico: são os pobres uns desleixados, sem educação… Lamento que assim possa pensar-se. E
exemplifico. Passeio amiúde com o meu cão no Parque da Pampilheira. É um parque
de estacionamento automóvel gerido pela Mobi Cascais, carote, que serve os
utentes do Hospital CUF. Parte-se, pois, do princípio, que os seus frequentadores
têm estudos, não fizeram apenas a antiga 4ª classe, muito carro topo de gama,
de matrícula recente… Dir-vos-ei que, apesar das papeleiras dispersas por ali, topo,
pelo chão e pelos canteiros, garrafas de plástico, beatas, sacos plásticos,
resto de farnéis, para além, diga-se, abundantes detritos de canídeos em plenas
faixas de rodagem…
Voltemos,
porém, à campanha «O mar começa aqui». A segunda fase decorreu a 12 de Julho.
Não pude participar, por não me encontrar no concelho e não pude igualmente
incitar os meus vizinhos a participarem, devido ao facto de só em cima da hora dela
ter tido conhecimento. É que, na verdade, a ideia
era genial: falar com o pessoal do bairro, designadamente aqueles de aptidões artísticas,
a pintarem adequadas mensagens nas sarjetas. Não se especificava, no folheto
que acompanhava o ofício da senhora vereadora, que frases poderiam ser, mas
adivinha-se. Para mim, a melhor era mesmo: «O mar começa aqui». Não só porque é
verdade, mas também porque – confesso – cada vez gosto menos de proibições.
«Não deite lixo na sarjeta», «Não atire beatas pró chão», «Não despeje água
suja»… Proibições, mensagens negativas… Tanto «não» acaba por aborrecer. E
depois, se não despejo aqui, então onde é que eu despejo?
É
isso: a mensagem positiva, a incitar a fazer bem – precisa-se!… Até lhe dá gosto
obedecer!
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 293,
2019-09-04, p. 6.
Elucidativo o desenho; negativas, as mensagens: «não», «não», «não»... |
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