sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Se forem de boa parreira…

              Tive o privilégio de receber comentários à crónica da passada edição, em que voltei a debruçar-me sobre termos e expressões típicas de Algarve e, concretamente, do nosso Barrocal.
            Tanto a nossa vice-presidente Marlene Guerreiro manifestou apreço, como Sofia Silva que, depois de me perguntar «como vai a ganga?», expressão típica de seus avós, garantiu ser esse um tema que lhe era «muito querido!».
            Apreciei.
            Maria Manuel Valagão, por seu turno, exclamou:
            – E que vivam as escaidinhas de uvas, especialmente se forem de boa parreira!...
            Claro, lá vinha o nosso termo: parreira!
            Permita-se-me que realce o agrado de Maria Manuel Valagão, por ser uma são-brasense bem conhecida pelos seus livros, no âmbito dos «comeres» (perdoe-se-me se não escrevo nem ‘culinária’ nem ‘gastronomia’, porque ‘comeres’ é mais do nosso jeito).
            Pois, a propósito do livro Vidas e Vozes, datado de 2018 (que M. M. Valagão escreveu com Nídia Braz, ilustrado com excelentes fotos de Vasco Célio), explicou Miguel Esteves Cardoso, na sua crónica do Público de 9 de Abril (p. 7), sob o título «O livro do peixe», que «sem os livros dela não se consegue verdadeiramente apreciar aquilo que fazemos e comemos».
            E acrescentou:
            «Infelizmente, há pessoas que se desinteressam quando lêem que ela é uma académica e investigadora. Sim, ela sabe trabalhar e recolher depoimentos. Mas é a maneira airosa e entusiástica como escreve e a inteligência das escolhas que faz que tornam os livros dela literalmente imprescindíveis».
            «Falta uma vez prá primêra» – diria meu pai – para que esses livros, deliciosos retratos dos costumes autênticos da nossa gente, não sejam devidamente apreciados.
            Apetecia-me brindar! E surgiu-me logo outra frase de antanho, quando, a determinado momento de servir um cálice de medronho para o brinde, ele acabara entretanto:
            Nam botes qu’eu nam bebo!
            Soltava-se uma gargalhada, o dono da garrafa saía airoso do desaire e… o convívio continuava, pois então! Não havia medronho? Haveria de figo e umas azêtonitas britadas!

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 274, 20-09-2019, p. 13.

Sem comentários:

Enviar um comentário