Muita
gente por ali passou e, quiçá, um dia, até alguém se apercebeu de que naquela
pedra havia letras. Aliás, quem a reutilizara para padieira de porta do que é,
hoje, casebre quase em ruínas no Largo do Forno de Arícera (concelho de Armamar)
deve ter pensado: «O melhor é pormos o escrito à mostra, não vá ele querer
dizer alguma coisa!»…
Certo é que
as décadas passaram até que um olhar atento, o de José Carlos Santos, formado
em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sobre essas
letras se demorasse. E bem o fez, porque a comparação dessas parcas letras com
letreiros idênticos encontrados na região permitiu apresentar-se a proposta da
sua reconstituição total, que viria a publicar-se na revista Ficheiro
Epigráfico (estudo acessível em http://hdl.handle.net/10316/100307
).
Trata-se de
um terminus augustalis, ou seja, um marco que, sob autoridade imperial –
neste caso, do
imperador romano Cláudio – confirmou,
no ano 43, o limite (o termo) dos territórios de dois povos ali localizados já,
quando os Romanos chegaram.Desconhece-se,
por enquanto, que povos seriam esses, mas a atitude imperial assim gravada em
pedra demonstra o interesse do governo de Roma por estas paragens da Lusitânia,
por um lado, e, por outro, o respeito que esse mesmo governo tinha para com os
povos pré-romanos.
Três
ou quatro ranhosas letras, dir-se-ia! Com essas minudências, porém, se giza a
História também!
José d’Encarnação
Inserido, a 13/8/2022, na página «Literatura e Poesia – Amadeu Carvalho Homem», no Facebook.
Letras ranhosas ...não! Imperiais,claudianas.
ResponderEliminarQue bom a existência ser feita de diversidade: diferentes pessoas em conhecimentos, sensibilidade, áreas de formação.
ResponderEliminarE na pedra quase informe para uns, outros descobrem umas estrelinhas que iluminam um caminho, um túnel do passado, que precisava de uma candeia.
Sempre admirei a administração romana sob o imperador Cláudio, o tal que gaguejava e ninguém estava à espera que sucedesse ao sobrinho, Calígula. E este cuidado, aqui sublinhado nas últimas linhas deste texto, torna-o ainda mais digno de ser lembrado.
Um texto pequenino que muito gostei de ler.