Dia 12 de Março. Passa num dos canais de televisão a reportagem sobre a
criação, em Alfândega da Fé, da «Ementa dos Anos da Fome». Apresenta-se como iniciativa
gastronómica, que preconiza o aproveitamento de tudo que o que se encontra na Natureza,
ao nosso dispor, que se aproveitava outrora e que, na actualidade, se prefere comprar
no supermercado, embaladinho, tratado e, quase de certeza, fruto de uma produção
intensiva, com fertilizantes apressadores do processo de crescimento.
Contudo, mais do que este aspecto –
sem dúvida, altamente positivo – o que mais me impressionou foi o nome da iniciativa,
porque traz bem explícita a ideia de fome. É preciso consciencializá-lo: há
mesmo fome entre nós!
Natalidade
Todos o dissemos, em tempo oportuno: cortar abonos de família, diminuir
o subsídio de nascimento, não proteger as famílias numerosas, não facilitar as
licenças de parto… só pode trazer consequências nefastas numa drástica diminuição
da natalidade.
Acresce a isso, todos os dizem
também, a sangria da nossa juventude que parte para o estrangeiro em busca do
trabalho que lhe é negado aqui.
E agora parece que acordaram os senhores
«governantes». Aqui d’el-rei que só temos velhos! Aqui d’el-rei que não nascem
crianças! E os senhores tomaram alguma iniciativa para o evitar? Não fizeram
ouvidos moucos, quando todos bramávamos contra as medidas que estavam a tomar?
Éramos «velhos do Restelo», está bem de ver. E somos. Mas talvez as barbas
brancas do velho alguma sabedoria hajam de guardar!
Até
às 22 horas!
Era chamada anónima. Hesitei em atender. As formalidades da apresentação.
Dois dedos de cautelosa conversa, que, da minha parte, só tinham a finalidade
de fazer tempo, o suficiente (pensei eu) para que o senhor do outro lado
«ganhasse» a chamada. Não sei como é que o esquema funciona, mas fico sempre
com a ideia de que, se for aguentando a conversa, o ‘funcionário’ é capaz de
ganhar mais uns cêntimos. Não sei se é assim ou não. O certo é que, quando os
atendo (o que nem sempre acontece), procuro ser simpático e respeitar o
trabalho que têm, o seu ganha-pão, creio.
Desta vez, era duma operadora de
telecomunicações. Temos em casa os telemóveis de uma e o conjunto Internet / televisão
/ telefone doutra. Sim, eu sei que, se tivermos tudo da mesma operadora, sai
mais barato. «Incomensuravelmente mais barato», garantiu-me o senhor do outro
lado. Não abordámos o tema «fidelização», apenas afirmei que me sentia bem
assim, pagava mais, paciência! Mas não tinha a maçada de mudar tudo outra vez,
funciona, não funciona!... Contudo, a determinado momento, devo ter-lhe dado a
ideia de que mais um pouco e eu não resistiria. E, aí, o senhor jogou o último
trunfo: «Se celebrar o contrato até às 22 horas, usufrui desta promoção
excepcional!».
‒ Perdão!? Espere aí um bocadinho. O senhor é duma
operadora e está a falar-me de um número não identificado; por outro lado, são
quase 20 horas e está a dizer-me que a campanha expira às 22?... Quer que eu
tome uma decisão assim do pé para a mão?... Esqueça! E diga aí aos seus chefes…
Espere! Não lhes diga nada!
O
lago que deixou de o ser
Deixou de ser lago o lago que alindava o final da Rua D. António
de Castelo Branco, no entroncamento com a Rua Joaquim Ereira, em Cascais.
Boa
ideia!
O
sistema hidráulico previsto nunca funcionou a preceito; a água, não renovada, apodrecia.
Virou, agora, canteiro florido. Se cuidado for, será regalo para os olhos.
Ictus
Tem como símbolo um peixe estilizado. «Ictus» em grego
significa «peixe», de facto. E era o signo secreto para os cristãos dos
primeiros séculos se reconhecerem. Miguel Graça deu esse título à peça ora em cena
no Mirita Casimiro. Certamente porque entrelaça com a história bíblica as
histórias violentas que na cena faz passar.
Choca.
Estreada
no Dia Mundial do Teatro em que, mais uma vez, se proclamou a importância fundamental
do Teatro na vida das gentes (e, aliás, o próprio texto da peça com isso se
casa às mil maravilhas), Ictus é um murro no estômago. Um forte murro no
estômago. Para consciencializarmos o que os noticiários veiculam – e nós, como quem
não quer a coisa, até acabamos por achar normal.
E
nada disso é, realmente, normal!
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais,
nº 39, 03-04-2014, p. 6.
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