Pelo
telhado de canas – um primor de trabalho que eu vira meu pai fazer mais os
vizinhos, nos tempos da grande entreajuda – esgueirava-se um ciciar de aragem
fria… Fazia-me forte, cheio de curiosidade, que não queria saber de papões, o
lobisomem é que contava, nas noites de lua cheia, diziam… Ceara papas de milho
com duas postinhas de sardinha de salmoira e até bebera uns golitos de café,
nada que me fizesse passar o sono, me desse cabo do estômago ou lhe desse volta
ou fosse como apanhar na barriga um murro seco.
Minha
mãe é que ficava mais afeleada com essas curiosidades minhas:
‒
O moço pequeno é melhor é ir prá cama, que essas histórias, minha mãe, não lhe
dão a volta ao estômago, mas ainda lhe avareiam a cabeça. É melhor: vamos prá
deita!
E
eu posso ju rar que não rezava nunca
o padre-nosso certinho, porque a imagem do lobisomem me atazanava mesmo!...
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 183, Abril de 2014, p. 10.
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