quarta-feira, 9 de abril de 2014

Almeirim a despertar para o turismo?

              Almeirim fica na margem esquerda do Tejo, frente a Santarém. É célebre pela «sopa da pedra». Um monge tinha uma pedra na panela e pedia uma pouca de água, apenas, para fazer uma sopa. E à medida que lhe iam dizendo que, se calhar, se pusesse uma batata ou um naco de toucinho, ou uma rodela de chouriço, uma mancheia de feijão… ficaria mais substancial, o frade ia acedendo. Que sim, que aceitava a ideia! E assim nasceu a sopa da pedra, a tradição de que Almeirim se orgulha e, hoje, todos os restaurantes se oferecem para servir a sopa da pedra mais tradicional e mais saborosa!
            Vive da gastronomia a povoação. Em volta da praça de touros (outra das tradições, a tauromaquia), pululam os restaurantes, que, além da sopa da pedra, têm na ementa a lampreia (no seu tempo), o ensopado de enguias… E, sentado numa encruzilhada, lá está o monge, de bronze, com a panela à frente.
            Amiúde se esquece que a Família Real também demandava a lezíria para fugir, quando necessário, aos «ares empestados» da capital. Fundada em 1411 por el-rei D. João I, que aí mandou construir um paço acastelado de que ora pouco resta, Almeirim chegou a ser, no século XVI (dizem), «a Sintra de Inverno». D. Manuel I, por exemplo, fez questão de aí frequentemente residir.
            Essa história está agora a ser mais recordada e é parcialmente mostrada no singelo Museu Municipal, inaugurado a 24 de Março de 2012, a que a Associação Portuguesa de Museologia, no intuito de dar novo alento à iniciativa, atribuiu, em 2013, uma menção honrosa na categoria de «Melhor Museu Português». Pequeno de dimensão, reúne o que foi o recheio do chamado Museu Etnográfico da Casa do Povo, procurando, em pinceladas breves mas sugestivas, dar uma ideia de como eram e como viviam as gentes almeirinenses: as alfaias agrícolas, os trajes típicos, os vestígios desde a Pré-história e a época romana.... Ponto de orgulho é assinalar, por exemplo, que foi ali que Garcia de Resende começou a imprimir o Cancioneiro Geral.
            Dir-se-á que é lento esse despertar para atrair visitantes, uma vez que se centrou – quiçá demasiado – apenas na «sopa da pedra». O Museu – aproveitando o espaço do que foi o terminal rodoviário – aliado ao embrião de uma «universidade da terceira idade» aí também residente, inserido no imenso largo da feira, poderá constituir importante pedra de toque a não esperdiçar! Como o foi a pedra na panela do frade!...

Publicado na Newsletter nº 6 do Departamento de Turismo da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, datada de 08-04-2014 e acessível em:

1 comentário:

  1. Pedro Ribeiro, presidente da Câmara Municipal de Almeirim, enviou-me, às 10.20 h. de sexta-feira, 11, o seguinte comentário, que agradeço:

    «Li a “nota” sobre Almeirim e deixe-me dizer-lhe que realmente a nossa aposta vai nesse sentido. Queremos aproveitar as centenas de milhar de pessoas que vêm à Sopa da Pedra para as levar a outras locais. Estamos a requalificar umas antigas escolas do tempo da monarquia e que ficavam junto ao Paço Real para ai instalar um centro de interpretação da nossa história que foi rica em acontecimentos marcantes para Portugal.
    Por fim um agradecimento por escrever sobre nós. A melhor forma de divulgar uma terra, uma região é a opinião de quem nos visita.»

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