segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Hong Kong, um olhar diferente!

             Somente a partir de 1997, a população de Hong Kong deixou de estar indiferente ao seu património.
            A revelação foi feita por Gregory Ashworth, da Universidade de Groningen, no decorrer da Conferência Internacional «Cultural and Heritage Tourism», realizada, em Lisboa, pelo Departamento de Turismo da Universidade Lusófona e pela Progestur, nos dias 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro.
            Na conferência então proferida, subordinada ao tema «Mutuality: a viable aproach to postcolonial heritage», apresentou os resultados da investigação feita, nesse âmbito, em relação a três casos: o Suriname (antiga Guiana Holandesa), Hong-Kong e a «British army heritage in Canada (1701-1871)». E se, no primeiro caso, tudo o que recorda o colonizador não é apreciado, porque ainda se mantém a sua negativa conotação de esclavagista, no que se refere ao Canadá, as instalações militares inglesas estão a ser reabilitadas, encaram-se como património a preservar e, inclusive, em 2012 se comemoraram os 200 anos da guerra de libertação, porque assim se reafirma a identidade nacional, perante a potência vizinha, os Estados Unidos.
            Hong-Kong constituiu, como se sabe, uma colónia inglesa até 1997, ano em que se processou a sua integração na China. Ora, foi justamente a partir desse ano que a população compreendeu a necessidade de salvaguardar o que era a sua diferença face uma China milenar, detentora de uma cultura e de uma língua que lhe eram completamente alheias.
            Estes três significativos exemplos prendem-se, naturalmente, com o facto de a noção de património não ser algo de estático ou permanente. Circunstâncias exteriores, digamos assim, determinam essa «classificação». Nesse sentido, a comunicação de Gregory Ashworth deteve particular interesse para os portugueses, nomeadamente em contexto lusófono, uma vez que as nossas preocupações se centram, neste momento, em valorizar os testemunhos da presença portuguesa no mundo – e esse desiderato está a ser, habitualmente, bem compreendido pelos países que nasceram da descolonização. Recorde-se que têm origem portuguesa inúmeros monumentos classificados nas mais diversas partes do mundo.

Uma conferência de largos horizontes
            A referida Conferência Internacional contou com mais de uma centena de participantes. A greve da TAP impediu, no derradeiro momento, a vinda de alguns dos conferencistas estrangeiros, de forma que o programa incluiu 20 comunicantes dos 28 previstos.
            Entre os temas abordados, citem-se:
            a mudança operada no Museu Nacional de Arte Antiga (2010-2014);
            o enorme impacte (cultural e económico) que teve, em Bilbao, a criação do Museu Gugenheim;
            as festas de Lisboa;
            o festival internacional da máscara ibérica;
            o papel das Pousadas de Portugal e o cativante exemplo da Casa da Calçada, em Amarante;
            o relevo que detém a Rota do Românico;
            a componente turística na actividade de Fundação INATEL.
            Melanie Smith, da BKF University of Applied Sciences (Budapest), abordou a atitude que está a ser tomada em relação às minorias étnicas, dentro do prisma do turismo cultural (no caso, as minorias ciganas e suas tradições, em Budapeste) – aspectos positivos e aspectos negativos.
            De resto, larga panorâmica geográfica foi abrangida, se pensarmos que se analisaram as enormes potencialidades turísticas de uma região como Himachal Pradesh, um centro religioso deveras significativo na Índia; que se encararam os indígenas da América Latina de um ponto de vista antropológico; que se viu como, na actual Alemanha unificada, novas perspectivas se abrem em relação às estruturas habitacionais («old city quarters») da antiga Alemanha Democrática; que também as cidades chinesas se voltam para o turismo cultural; que, na cidade romana de Pompeios, a avalanche de visitantes implica noções claras de reabilitação e conservação do seu invulgar património arqueológico edificado…
            E se a cidade do Porto é ora susceptível de uma visita tendo como atractivo primordial a sua valiosa arte contemporânea, também se preconizou – e foi essa a acutilante intervenção do Prof. José Manuel Hernández Mogollón, da Universidade da Extremadura (Cáceres) – que há que introduzir, pouco a pouco, o conceito de saborear tudo devagar, não apenas a gastronomia (slowfood) mas também as cidades e as suas maravilhas (slowcities).

Publicado em Cyberjornal, edição de 03-11-2014:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=978:hong-kong-um-olhar-diferente&catid=37&Itemid=30

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