E
é verdade.
Algarvio
come favas duas a três semanas a fio. Já David Martins Dias o contou, em «Desafiando o Destino -- a história da minha
vida» (Câmara Municipal de S. Brás de Alportel, Setembro de 2015), e eu
tive ocasião de o confirmar no prefácio que escrevi para esse livro.
Apanhadas
as favas já rijas que se deixavam para semente, ficavam as canoiras, assim como
pequenina floresta seca e enlutada. No milho também era assim: apanhávamos as
maçarocas, guardavam-se as carepas para renovar o recheio dos colchões e as
canoiras eternizavam-se na terra.
Canoira
é palavra nossa, algarvia; noutros lados, diz-se caneira. Esclarece o Dicionário do Falar Algarvio que deriva
de «cana» e tem jeito essa derivação ,
dada também a aparência de colmo.
Tive,
porém, curiosidade de ir saber mais. O google
só me apresenta Canoira como apelido de um professor da Universidade
Politécnica de Madrid; e o Dicionário da Academia diz que se trata de «peça de
moinho, em forma de pirâmide quadrangular truncada, que recebe o grão e o vai
deixando cair regularmente sobre a mó para ser moído». Muito longe está,
portanto, do termo popular.
Uma
eventual relação com o latim «canora», «canora», com alongamento
liquescente do ‘o’, não se me afigura credível, porque, mesmo que a brisa ou o
vento passasse, cantoria, ali, dificilmente se deixaria ouvir!... Fiquemo-nos,
pois, pela derivação a partir de
cana, em que o sufixo -oura terá, pois, uma conotação
de diminutivo.
José d’Encarnação
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 216, Janeiro de 2017, p. 10.
Amy Madeira
ResponderEliminarSaudades desses tempos! Abraço ;)
Manuela Correia
ResponderEliminarFavas são prenúncio de primavera, cheiros e sabores que nos fazem sentir renascidos. (Sou serrenha)
Sonia Carmona Antunes
ResponderEliminarCaro Professor, adoro as suas tão sábias crónicas.
Vitor Barros
ResponderEliminarAs canoiras "ceifavam-se juntamente com a rama dos griseus e fazia-se um monte no palheiro para ir dando ao macho durante o Inverno", contaram-me...
Bem haja, Vítor! A sabedoria ancestral que vai guardando...
EliminarManuel Luís Correia Alves
ResponderEliminarTbem "são-bràseiro" e residente em Cascais, partilho a familiaridade do termo "canoira" e tbem "canavoura"!
Sim, Amigo! Faço parte, com muita honra, da colónia são-brasense que, no final da década de 40 e na década demandou Cascais para trabalhar nas pedreiras!
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