A direcção da Sociedade com Eugénia Lima, 17 de Abril de 1988 |
Em
contacto com Vítor Barros, o grande zelador pela história desta esquecida fronteira
noroeste do nosso concelho, fiquei a saber que, tendo a Sociedade sido fundada
a 17 de Abril de 1938, a
foto era, pois, de Abril de 1988. E enviou-me o recorte da 1ª página da edição de 31 de Maio de 1988 do nosso prezado colega «O
Sambrasense», onde se dá miúda conta dos festejos e se explica que, dos 21
fundadores da Sociedade, só 4 estavam vivos nessa altura, passando já a
colectividade por dificuldades, porque, da centena de sócios, apenas metade tinha
as quotas em dia. E a festa, além da referida corrida de atletismo infantil, incluíra
torneio de futebol infantil e baile de confraternização
à tarde, tendo actuado o Rancho Infantil dos Almargens e jovens acordeonistas.
O momento alto fora, porém, à noite o baile, abrilhantado pelo ímpar virtuosismo
da sempre saudosa Eugénia Lima, que recordou, também ela, com saudade, as
muitas noites festivas que ali passara.
Dispus-me
de imediato a escrever uma crónica sobre a Sociedade, cujas paredes, da última
vez que eu as vira, em 2015, ameaçavam ruína, e aproveitaria, assim, para
chamar a atenção da autarquia para o
facto de ser evidente que, como essas paredes, a povoação
estava a morrer. Tirando a algazarra das crianças da escola, Corotelo
continuava a ser apenas – como sempre fora desde tempos de Romanos – terra de
passagem e sem motivos para ser de paragem, até porque nenhum estabelecimento
existe e cada qual se amanha como pode, numa população
que se partilha entre os velhotes e os estrangeiros que escolheram o aconchego
do Corotelo e da Fonte da Murta para se radicarem. Corotelo nem a uma placa
toponímica tem direito; as ruas não têm nome; o lixo acumula-se junto dos
contentores; não há transportes públicos; e, para qualquer compra, só indo à
vila – mas já não há burros nem machos que levem a gente e os automóveis
partiram de manhã para Faro ou para S. Brás e só depois do trabalho é que regressam...
Mantém-se,
a custo, o café, onde alguns reformados e estrangeiros apanham um pouco de sol;
a Câmara Municipal faculta um autocarro, de quinze em quinze dias, às
quintas-feiras, para os poucos moradores irem às compras; mensalmente, uma
unidade móvel de saúde vai até lá para medir tensões e o enfermeiro dar dois
dedos de conversa aos velhotes que aparecerem…
Portanto,
eu ia lamentar também o facto de nada se fazer pelo edifício da Sociedade de
grande tradição , onde cheguei a
deliciar-me com a actuação das charo las e, precisamente com Eugénia Lima, que me
seduzia! Alertou-me, porém, Vítor Barros:
«Quando refere que “me faz pena ver o estado
em que se encontra o edifício”, deduzo que não sabe ainda o que lhe acontec eu… Pois bem, essas palavras pertencem ao
passado. A Sociedade já não existe. Em meados de 2016, talvez Junho, o edifício
foi demolido e já nada lá resta daquilo que conhecemos. Já não tinha existência
como Sociedade, nem sócios, nem direcção
e a chave já tinha sido entregue ao proprietário do imóvel. Como ameaçava ruir
para a estrada, o mesmo resolveu deitar tudo abaixo. E assim morreu a nossa
Sociedade. Ficam as lembranças e a saudade dos bons momentos lá passados pelos
nossos antepassados e por muitos de nós, eu inclusive. Os bailes, as rifas, o
grande jornal «A Bola» ocupando uma mesa inteira. A televisão em que se ia ver
o Festival da Canção , as touradas, as
petiscadas no bufete, namoricos, casamentos, etc., etc. Tudo está lá enterrado
agora…».
Obrigado,
Vítor Barros!
Não
adianta chorar sobre pedras esboroadas. Pode ser que, um dia, quando algo de
novo começar a surgir no horizonte, haja promessas… para cumprir!
Oxalá!
José d’Encarnação
Publicado em Noticias de S.
Braz [S. Brás de Alportel] nº 242, 20-01-2016, p. 11.
Sonia Carmona Antunes
ResponderEliminar20/1 às 7:49
Saudades de uma vida simples e feliz.Imagens guardadas na nossa memória e que nos fazem tão bem. Fotografias tiradas do baú.Gosto imenso, caro Professor.
Maria Teresa Neves 20/1 às 18:08
ResponderEliminarNão é só o Corotelo! Todos os sítios estão a ficar moribundos!
Josélia Viegas 20/1 às 20:47
ResponderEliminarEm Fevereiro de 2016 fiz estas quadras:
Com o perigo a espreitar
Podia cair e causar
Algum grave acidente
Foi abaixo a Sociadade
Deixa alguma saudade
Nela se divertiu muita gente
Há muitos anos fechada
Mas ainda é lembrada
Pelos famosos bailaricos
Vinham de longe pra dançar
E o acordeão a tocar
Convidava aos namoricos
Célia Faria
ResponderEliminarSaudades imensas de todo o passado!Era lá que eu ia ver a festa do 13 de Maio, em Fátima, o festival da canção... Beijinho e um bem-haja pela partilha.
Manuel Leitão
ResponderEliminarUma infância sem os gameboy, as PlayStation, etc. Mas com os carrinhos de rolamentos, o pião, o arco, os berlindes, etc..... Uma infância feliz onde se dava valor a uma verdadeira amizade, feita por entre os estudos e as brincadeiras na rua.
Ana Paula Bexiga Mariano
ResponderEliminar21/1 às 0:13
Dos Vilarinhos caminhando com as amigas até aos bailaricos! Era o da Pinha, o das tabletes de chocolate ��... Enfim, tudo pretexto para conviver com muita alegria. Tudo era mais puro, tudo era mais lindo, saudades desses tempos��