sábado, 27 de julho de 2019

Dois espectáculos

              Sei bem que corro o risco de ser altamente injusto por só dedicar meia dúzia de linhas a dois espectáculos de excelência. Pesa-me também por não serem tão eloquentes quanto merecem.

Bailado
            Dia 29 de Junho, no Casino Estoril, a apresentação das classes da Escola de Dança Ana Mangericão. O tema, “From Ballet to Broadway”, pretexto para, numa sequência de bailados, coreografados pelos docentes da Escola, nos deliciarem. Importa referir-lhes os nomes: Ana Mangericão, Catarina Lopes Ribeiro, Susana Rodrigues, Brownen Stout, Maria João Filipe, Diana Vieira. E os alunos colaboraram!
            Doze trechos em cada parte, numa sequência rigorosamente pensada, de forma a alternarem-se não apenas os géneros musicais, mas também os níveis etários. Consolador ver como até os mais pequenos nos deram lições de disciplina, aprumo, alegria… Que nada houve ali que pudesse transmitir enfado ou sentimentos negativos. Do palco se evolou, a todos os momentos, contagiante hino à boa disposição.
            Impressiona a capacidade organizativa, o rigor da execução, a originalidade das coreografias.
            Um final de tarde muito especial, difícil de esquecer pelos estudantes, pelos pais e familiares. Destas centenas poucos serão os que encaram o bailado como futuro profissional; de qualquer modo, o que estão a aprender ficar-lhes-á para a vida!
            É pouco deixar aqui consignado – para alunos, docentes e toda a equipa, tão briosamente orientada pela Profª Ana Mangericão – um enorme aplauso; mas será a minha forma de me congratular com o indiscutível sucesso!


Teatro
            No Mirita Casimiro, outra demonstração do extraordinário resultado obtido pela leccionação, desta feita dos alunos da Escola Profissional de Teatro de Cascais. O Sonho, de August Strindberg, com versão e dramaturgia de Graça P. Corrêa, serviu para, na companhia de Ruy de Carvalho e de membros do TEC (Miguel Amorim, Luiz Rizo, Renato Pino, Sérgio Silva e Teresa Côrte-Real), os ora estreantes saberem o que é pisar o palco num espectáculo a sério.
            Aliás, como é costume para as PAP (Provas de Aptidão Profissional, que são as provas finais dos alunos), Carlos Avilez não deixou de criar momentos em que o bailado e o canto se incorporarem no entrecho, a fim de ser testada a capacidade de os estudantes se organizarem e movimentarem em conjunto (coreografia de Natasha Tchitcherova). De resto, para tal se presta a escolha de um cenário (de Fernando Alvarez) praticamente despido, apenas com leves rampas e estrados.
            Guarda-roupa original, próprio da mensagem a transmitir: os estranhos entes de Jerónimo Bosch n’As Tentações de Santo Antão, as musculadas mulheres de Paula Rego, os guerrilheiros do Daesh...
            Escrito em 1901, o texto detém acutilante actualidade. Vinda à Terra para saber como era a humanidade, Agnes, filha do deus Indra, encarnou Cristo de certo modo, mas, desiludida com o que viu, regressou ao assento etéreo sem pela humanidade se sacrificar. Achou que não valeria a pena. Os retratos circunstanciais que nos é dado presenciar revestem-se de oportuna sabedoria. Poderiam ser peças de um sonho. Não são. É bom que se nos apresentem. Assim. Nuas e cruas!
                                  
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 291, 2019-07-24, p. 6.
Fotos do espectáculo do TEC retiradas, com a devida vénia, da sua página; as da apresentação da EDAM constituem especial deferência, que agradeço, do Gabinete de Imprensa da Estoril-Sol

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