quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Na prateleira - 9

Luto
            Chorámos pela Ana Rita, de 24 anos, dos Bombeiros de Alcabideche. Fazemos diariamente votos para que as promessas feitas no calor da imensa mágoa não caiam em saco roto. Chorámos o Bernardo Figueiredo dos Bombeiros do Estoril, de 23 anos, apanhado pelo mesmo incêndio traiçoeiro, para cujo combate generosamente se haviam oferecido, lá nos confins da Beira.
            Luto pesado caiu sobre Cascais.
            Mas, do outro lado do nosso ser, rompeu, mais uma vez, a revolta. Não há castigo exemplar para os incendiários? Que leis são estas, que punem quem tira, para matar a fome, uma lata de salsichas do supermercado e manda em liberdade condicional quem acarreta milhões de prejuízo ao País, a todos nós, contribuintes?

40 horas
            Cada cavadela, cada minhoca! Tudo porque não imaginaram (é estranho, de facto!) que estão a lidar com pessoas e que, afinal de contas, também eles são pessoas. Pelo menos, parecem!
            No dia 30 de Agosto, a grande novidade: Sua Excelência, o Senhor Presidente da República promulgara «o diploma que prevê um acréscimo de cinco horas semanais ao horário de trabalho dos funcionários públicos». O raciocínio, muito simples: «Mais horas de trabalho, maior rendimento, com os mesmos custos!». Asneira, claro! E logo o antigo conselheiro de Passos Coelho, António Nogueira Leite, veio explicar:
            «Na prática, o aumento para 40 horas não vai pôr a Administração Pública a trabalhar mais. […] O que tinha mais efeito era que, na Função Pública, uma parte do vencimento fosse indexado à performance das pessoas». (Aqui para nós, quando o senhor diz performance não está a falar de perfumes ou afins; está a usar uma palavra inglesa – “é bem, percebe!...” – que significa «dedicação, competência, entrega a uma causa, entusiasmo» – ena, pá, quantas palavras a gente tem para dizer aquilo!...).
            Pois é, amigo Nogueira Leite, o senhor é «antigo» conselheiro, não se esqueça; agora, os conselheiros são outros e têm outras performances! Oh se têm!... Ah! Mas não ligam às performances dos outros!...

Próxima, sim, mas muito pouco!
            Chama-se «Cascais Próxima» a empresa municipal que gere, por exemplo, os parques de estacionamento. Não poderia ter nome mais apropriado, porque, na verdade, está mesmo «próxima» de nós, pois dificilmente na vila estaremos longe de um local onde se não tenha de pagar pelo estacionamento.
            Então qual a razão do título desta nota «Próxima, sim, mas muito pouco!»? Simplesmente, porque, em ocasião de grandes cerimónias, como o foi, por exemplo, no final da tarde de domingo, 8 de Setembro, a solene abertura do Congresso Internacional dos Museus Marítimos, os responsáveis por essa tal de Cascais Próxima poderiam ter-se lembrado de facilitar gratuitamente o estacionamento no parque fronteiro à Casa das Histórias Paula Rego das viaturas de jornalistas devidamente identificados e, sobretudo, dos técnicos camarários que, por razões de serviço, ali se deslocaram em carros camarários, que, como se sabe, estão devidamente identificados. E fiquei a saber que era assim: mesmo os veículos camarários têm de pagar à Cascais Próxima!
            Esperemos, pois, que pelo menos essa empresa dê avultados lucros no final do ano. O problema estará em que – palpita-me!... – tão próxima está que os lucros não serão partilhados com a Câmara Municipal, que é sua mãe. Emancipou-se, a menina! Se nem os parques ela quer partilhar!...

Cascais no centro da meteorologia!
            Desde há uns tempos a esta parte que os boletins do Instituto Português do Mar e da Atmosfera citam habitualmente Cascais. Nunca tal sucedera antes e nós até nem nos importávamos muito com isso. Deve ter havido alguém que resolveu, no entanto, achar que a vila também neste caso estava a ser desconsiderada e, por isso, vá de meter a cunha: «Oiçam lá, meninos, vocês não podem falar de Cascais todos os dias? Era assim a modos de uma forma de fazerem publicidade cá do burgo, entendem?». E os senhores do IPMA têm sido bem mandados: ele é «a norte de Cascais», ele é «a sul de Cascais»…
            Nós os que vivemos em Cascais há algumas dezenas de anos parece-me que sabemos (se calhar, não sabemos…) que, por estas bandas, é pela Serra de Sintra que se faz a distinção do tempo: para norte, é capaz de chover e estar nevoeiro; para sul, ou seja, em todo o território cascalense, normalmente o tempo é outro. E quanto ao sul, se falassem em Cabo da Roca (disseram-me que também podia ser a partir do Cabo Raso) a gente ainda entendia; agora para ‘sul de Cascais’!… A senhora do IPMA que me atendeu, quando eu liguei para lá a pedir uma explicação, respondeu-me mais ou menos assim: «Estamos a falar da costa e quando se diz ‘a sul de Cascais’ é de Cascais até Vila Real de Santo António!».
            Compreendi que tinha sido uma grande cunha, essa de se falar de Cascais na meteorologia. Abençoada cunha!

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 15, 25-09-2013, p. 12.

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