Não
me admira, porque também eu tive um baque e achei que era um sinal. De quê, não
sei; mas decerto haverá quem já tenha explicado o que foi e porquê. Aquela borboleta
a poisar de imediato no sobrolho do Ronaldo não foi obra do acaso – que não
andam borboletas assim sem mais nem menos em movimentado campo de futebol!...
O
sinal é dessoutra dimensão que a nossa existência tem e da qual nem sempre, por
distraídos, nos apercebemos.
Lembro-me
logo daquela amiga que perdera o filho muito jovem, e, dias depois, um passarinho
lhe veio poisar no ombro, pipilou e sumiu. Ou do Faustino, cujo pai era pescador:
«Um dia, hei-de ser gaivota», dizia-lhe ele. E, um dia, na auto-estrada do Sul,
falecera-lhe o pai há pouco, ameaçadoras nuvens de tempestade, caía aguaceiro
forte e Faustino com a natural ansiedade. De repente, vinda não se sabe donde,
uma gaivota voou-lhe duas, três vezes à frente do carro e desapareceu no ápice.
E uma serenidade imensa o inundou. Só mais tarde, bastante mais tarde., é que
se lembrou da conversa do pai: «Eu hei-de ser gaivota!».
Tem
cada um de nós ligação especial a um outro mundo. Acreditavam os Romanos que havia
para cada homem um Genius a protegê-lo
e para cada mulher uma Juno. O Alberto fala-me amiúde de «os nossos anjinhos»:
«Se não consegues fazer é porque não é para fazer, acredita! Vamos aguardar!».
E ele tem sempre razão. «Os nossos anjinhos». Julgo que todas as religiões terão
essa crença em alguém que está ao nosso lado e que importa ouvir, um «anjo da
guarda».
«Será
que desliguei o gás?». Volta-se atrás, o gás estava desligado, mas… aquela chave,
afinal, ficara ali mesmo esquecida, em cima da mesa da cozinha, e tanto que iríamos
precisar dela!...
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 690, 01-08-2016,
p. 11.
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