segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Choveu música em Cascais

               Ainda que com notável atraso, não posso silenciar três concertos que, no final do mês de Julho, aconteceram em Cascais. Daqueles que não tiveram honras de anúncio em pacotes de açúcar nem publicidade nos painéis de rua.
            Refiro-me ao que aconteceu no dia 20: de tarde, o Refado, no Auditório Senhora da Boa Nova, na Galiza (S. Joao do Estoril); e, à noite, na Praça Cidade Vitória, frente ao edifício-sede da União de Freguesias Cascais e Estoril, em Cascais, este por iniciativa do grupo cascalense Cantares de Terra; e, a 29, depois de actuações em vários locais de Lisboa e de Cascais, o concerto de gala, no Salão Preto e Prata do Casino Estoril, no âmbito da iniciativa IFCM – World Choral Expo.

Refado
            O nome propõe que se reconheça nessa sessão a angariação de fundos para a Refood, organização que, como o nome indica, visa, em regime de voluntariado, aproveitar as comidas sobrantes das refeições nos restaurantes, a fim de, devidamente acondicionadas, serem distribuídas pelas famílias necessitadas a que a organização presta apoio.
            Dir-se-á, desde logo, que, a exemplo das sessões anteriores com o mesmo fim e idênticas características, o auditório acabou por se transformar numa imensa casa de fados. Ambiente descontraído, quase familiar, adjectivo que, na presente edição, tem todo o sentido, porque, em subtítulo, se escreveu «concerto solidário das famílias fadistas». Na verdade, cada fadista cantava dois fados e associava-se, no terceiro, ao membro da família que trouxera consigo.
            Assim, com exímia apresentação dos consagrados Diamantina Rodrigues (que ao trauteando os fados e que não deixou de, também ela, dar um ar da sua graça) e Carlos Alberto Moniz, desfilaram pelo palco do Boa Nova – como poderá ver-se pelas fotos que, embora não profissionais, ilustram esta nota:
            – Mico e o irmão Gonçalo da Câmara Pereira;
            – Tânia Oleiro e a mãe Maria do Céu Crispim;
            – José da Câmara e a irmã Teresa da Câmara Fonseca;
             Salvador Taborda;
            – a veterana Teresa Siqueira e o filho Rodrigo Rebelo de Andrade;
            – António Pinto Basto e o filho Gustavo (que potente voz, a deste jovem!).
           Eximiamente acompanhados (que delícia ouvi-los, mormente na maravilha que foi a guitarrada com que nos brindaram a abrir a 2ª parte!), Diogo Lucena e Quadros (que brilhante ele foi, à guitarra, que to bem a trata por tu!...), Jaime Santos, à viola (também ele, um mestre!), e Francisco Gaspar, na viola baixo (naquele acompanhamento discreto mas essencial).
            Foi tarde, mas pareceu-nos noite serena, reconfortante. Já o sol se pusera quando saímos, não sem antes – foi, aliás, após o intervalo – termos ouvido os apresentadores entrevistarem Hunter Halde, o visionário de fato branco e chapéu de feltro branco também (a sua ‘imagem de marca’!...), que, partir de 9 de Março de 2011, começou a recolher comida, em Lisboa, e a entregá-la a quem precisava, montado numa bicicleta…
            Hoje, a distribuição está bem organizada e todos quantos quiserem apoiar a Refood Cascais podem fazê-lo das mais variadas formas, designadamente oferecendo-se em regime de voluntariado. Contactos: refood.cascais@gmail.com e tel. 938 408 919.

Os apresentadores: Carlos Alberto Moniz e Diamantina Rodrigues














Diogo Lucena e Quadros, na guitarra portuguesa
Jaime Santos, na viola de fado
Francisco Gaspar, na viola baixo
A entrevista a Hunter Halde
VIII Encontro de Música Popular
            A partir das 21.30 horas, nesse mesmo sábado, 20, a 8ª edição desta série que visa dar a conhecer trechos da música portuguesa que entraram no ouvido de todos e que, por isso, os poderemos chamar de «populares». Dir-se-á que o «Pica do 7», do António Zambujo, é moda de agora e ainda não ganhou foros de ser popular; pois que me parece que não, uma vez que tamanho êxito entrou pela casa de toda a gente, que o sabe trautear a preceito.
            Singular iniciativa esta, dos Cantares da Terra, sempre numa noite de Verão, a alegrar o ambiente, no largo da Câmara ou, como foi este ano, no da Junta, uma vez que tem o patrocínio de ambas as entidades – e ainda bem!
            Faltou, por dificuldades logísticas, o segundo grupo convidado, Sons do Tempo, que deveria vir da Covilhã (e as antigas scuts continuam a ter de ser pagas a bom preço…); veio, de Canhas, junto à Figueira da Foz, o Emcantos, que nos encantou, também pela sua boa disposição e jovialidade. A finalizar, o grupo anfitrião, que sempre nos regala com originais arranjos saídos do saber e inspiração da Marta Garrido. O grupo está remoçado, os naipes bem dispostos e afinados e uma pessoa estaria a ouvi-los até mais não, não fosse haver por ali uma senhora que quer que tudo acabe às 23, porque ela é a essa hora que, inevitavelmente, abre o estaminé com jaze a querer encher a praça toda!...
            Um serão deveras agradável, com público atento, contagiado pelos ritmos alegres das nossas canções. E não hesitaram alguns dos estrangeiros passantes a ensaiar o seu pezinho de dança, pois então! Que a música convidava mesmo!
Actuação do grupo Emcantos, de Canhas (Figueira da Foz)
Instantâneo da actuação dos Cantares da Terra
Instantâneo do público
Outro instantâneo da actuação dos Cantares da Terra
O festival de coros
            Deslumbrante o que nos foi dado assistir no dia 29. Aquelas crianças e jovens encantaram-nos, não apenas pelo reportório apresentado, mas sobretudo pela sua entrega bem humorada e compenetrada ao que nos estavam a mostrar, com um saber extraordinário, pois que ao canto se aliou sempre uma bem agradável coreografia, servida por trajes típicos de cada país.
            Pelo palco passaram o Lily’Children’s Choir, da China; o Qatar Youth Choir; o Moran Children’s Choir, de Israel; o Coro Juvenil de Lisboa; o Cantemus Children’s Choir, da Hungria (que garridas eram as vestes!); e o Indonesia Youth Choir (excelente coreografia!). No final, em jeito de «combined Repertoire» todos os coros vieram para palco e todos cantaram, sucessivamente, temas típicos da China, do Qatar, de Israel, de Portugal, da Hungria e da Indonésia. Um encanto!
            No dia 29 foi uma das galas; contudo, desde 28 a 31 de Julho, diversas salas, em Cascais e em Lisboa, acolheram actuações ímpares dos coros, no âmbito desta World Choral Expo, organizada pela primeira vez em Portugal, sob a superintendência da IFCM, a Federação Internacional de Música Coral.


          Que venham mais vezes, pois estou certo de que, desta sorte, novo impulso ganharão os grupos corais do nosso país!
           
                                                                       José d’Encarnação

P. S.: As fotos do espectáculo no Casino forma gentilmente cedidas pelo Gabinete de Imprensa da Sociedade Estoril-Sol. Bem hajam!

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