quinta-feira, 15 de agosto de 2019

O património do falar

             Quando a União Soviética ocupou a Moldávia, uma das primeiras preocupações foi determinar que se adoptasse o alfabeto cirílico e não o latino, porque, como se sabe, o Romeno é uma língua românica. E chegaram ao ponto de ordenar a destruição das placas funerárias nos cemitérios – para que a memória se apagasse.
            Uma das drásticas medidas impostas pelos Indonésios aquando da ocupação de Timor foi a total abolição da Língua Portuguesa, com as consequências que, ainda hoje, estamos a sentir, embora Xanana Gusmão e seus partidários, educados como haviam sido nas escolas portuguesas, tenham determinado, sem hesitação, que seria o Português a língua oficial de Timor Leste.
            Já não nos causa impressão ver, em Bruxelas, tudo escrito em francês e em flamengo, ainda que seja quase ridículo que, na zona flamenga, alguém nos responda «não compreendo» só porque estamos a falar-lhe em francês…
            Conhecida a longa tradição de luta pela autonomia, também não nos admira que, no aeroporto de Barcelona, se leia uma placa trilingue: em catalão, em inglês e só em terceiro lugar venha o castelhano.
Fig. 1 - Placa em Miranda do Douro
            E encontramos placas toponímicas bilingues nas várias províncias espanholas, na Irlanda, no País de Gales, inclusive em Miranda do Douro!… E aqui (Fig. 1) com o pormenor de, mui significativamente, ser o mirandês que vem em primeiro lugar!
Placa toponímica dupla em Toulouse
            Já nos poderá causar mais estranheza ao saber que, em Toulouse, os nomes das ruas estão em francês e em occitano (ou provençal), língua ancestral que já ninguém entende nem fala!... (Fig. 2).
            Conclusão: o falar é um património, revelador da nossa identidade, das nossas raízes!
                                                                       José d’Encarnação

Inserido, a 21 de Fevereiro de 2019, no blogue da Liga de Amigos de Conimbriga: https://laconimbriga.blogspot.com/2019/02/jose-d-encarnacao-professor-catedratico.html#more

1 comentário:

  1. E quando acrescentamos letras a um discurso que não as devia ter? Lembro-me daquela jovem de Coimbra que chegava a Lisboa com dezassete anos e dizia aos colegas que na sua cidade estava tanto frio, que andava lá sempre de camisola de gola i alta? Eles questionavam, riam, voltavam a gozar quando ela acentuava o a em maior, mas foi-lhe custoso desfazer-se das letras e dos acentos do afecto.
    Um grande abraço e obrigada pelo texto.
    Madalena

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