Foi
da iniciativa dos pescadores a solicitação
a el-rei D. Pedro I, em 1364, para que os libertasse da tutela de Sintra,
porque já se julgavam dignos de uma autonomia.
Foi
mediante louvores ao clima cascalense e à sua refrescante brisa marítima estival
que, no século XVII, Frei Nicolau de Oliveira incitou o rei espanhol a fixar
sua corte em Lisboa.
Foi
Cascais que el-rei D. Carlos, em meados do sé. XIX, escolheu para estância balnear
privilegiada e centro das suas experiências marítimas; daí que Eva-Renate
d’Esaguy não tenha hesitado em dar ao livro que a Editorial
Império (Lisboa, 1952) publicou o título Cascais, Terra de Reis e Pescadores, até porque el-rei entre os
pescadores amiúde confraternizava…
Antes,
porém, por toda a Idade Moderna, era a baía de
Cascais a última que os navegadores deixavam, quando em demanda de novas paragens
e, no regresso, era ela a primeira que eles, mui jubilosamente, saudavam.
Tem,
pois, pleno cabimento o livro que Manuel Eugénio e José Ricardo Fialho
prepararam sobre Cascais e o Mar, uma
edição da Junta da União de Freguesias
Cascais e Estoril, solenemente apresentado pelo presidente da Junta, Pedro
Morais Soares, ao final da tarde de domingo, 25 de Agosto, último dia das
celebradas Festas do Mar deste ano.
Uma
significativa cerimónia singela, no Largo Cidade Vitória, junto à sede da
Junta, com largo público e a presença do presidente da edilidade.
Não
é um livro de história, é um livro para
a História!
Ou
seja, aí minuciosamente se recolheu assaz completo acervo a respeito do que se
conhece (e convém não esquecer!) acerca
desta íntima e multissecular ligação
entre a vila, o mar e as suas gentes. Entidades, acontecimentos, lugares, monumentos,
edifícios, casos célebres, vultos do Povo que não poderão olvidar-se…
Alice, varina e vendedeira no mercado |
Meu
pai foi arrieiro na sua juventude. Ia de S. Romão, de madrugada, às cavalitas
de uma burra, à praça de Olhão comprar peixe, que revendia pelas terras de S.
Brás de Alportel. Quando veio para Cascais, trazia o gosto do peixe no corpo.
Por isso, amiúde, terminada a venda, a ‘menina Sara’, a Alice (que vem no livro
como a Alice da Barraca de Pau) ou a sua irmã, a Carolina, batiam-nos à porta,
em Birre, à hora do almoço, para que comprássemos o que não haviam vendido. Meu
pai olhava, «tens aí um cento de carapaus; dou tanto!». Regateava a Carolina,
que não, que tinha mais, e meu pai na dele! Contadas as cabeças, acabavam por lhe
dar razão e a merca se concretizava, pois então!
As
varinas! Punham as canastras no tejadilho das carreiras da Palhinha, ali pelas
10 da manhã, e lá iam elas! Para a Malveira, uma; Aldeia de Juso, outra;
Barraca de Pau, Cobre, Birre e Torre, outras…
De
futuro, nada poderá escrever-se sobre Cascais sem uma alusão ao que ora neste
livro ficou mui despretensiosamente consignado, fruto de aturada pesquisa e,
também, importa dizê-lo, da colaboração
de quantos, abordados pelos autores, não tiveram receio em lhes facultar
fotografias e documentação do seu
espólio familiar. Abençoados!
Reza
o lema camarário cascalense «Tudo Começa nas Pessoas». Dir-se-á também, com
inteira justiça que, neste 13º livro de Manuel Eugénio (a partir de dada
altura, em parceria com José Ricardo Fialho), as Pessoas são, na verdade, o elo
de tudo!
E
outra atitude não há senão a de se louvarem os autores e o Executivo da Junta,
por não se haverem poupado a esforços para nos legarem, a nós e às gerações
vindouras, estes eloquentes e bem significativos testemunhos!
José d’Encarnação
Texto notável sobre as muitas bênçãos da vila de Cascais: o mar, o peixe fresco, os pescadores, as gentes que, afinal, são os elos de ligação de todos os elementos.
ResponderEliminarParabéns
e um abraço
Bem hajas, Madalena! Sempre atenta, sempre atenciosa!
EliminarDe:Fernando Mendes
ResponderEliminar30/08/19 13:54
Obrigado, Zé, por manteres erguida a bandeira dos que ajudaram a escrever a história de Cascais e suas gentes. Pode parecer um pormenor mas, para mim, espoliados que fomos dos dois jornais regionais que divulgavam o que se passava no concelho, sem interesses comerciais, os teus comentários, mesmo que eventualmente pequenos, são uma efectiva enxurrada de informação útil para quem atravessa período de seca nesta matéria.
Respondi ao teu comentário sobre a obra do Manuel Eugénio e do Fialho. Por “nabice” minha julgo que não seguiu. O essencial reside na relevância que prestei à tua humildade, enquanto professor catedrático, por teres saudado a obra dos nossos amigos. Obrigado, Zé!
Neste mundo balsoneiro é tão gratificante ler as tuas peças. Julgo que refinaste, para melhor.
Continua, amigo!
As pessoas estão sempre primeiro!