Casal
do Clérigo é sítio ocupado desde mui remotas eras. Aí identificámos uma villa romana, onde se fizeram sondagens com
satisfatórios resultados, que tivemos ocasião de dar a conhecer. Por aí passava
a «estrada real» para Sintra e foi justamente por isso que, no século XVI, aí esteve
um amante de antiguidades, que descobriu, por exemplo, uma inscrição funerária romana. Uma história, repito, que
temos contado nas publicações que temos feito sobre os vestígios romanos em
Cascais. Veja-se, a título de exemplo, o livro Dos Patrimónios de Cascais, editado pela Associação Cultural de Cascais, apresentado a 26 de Julho
na Casa Sommer.
É
em Casal do Clérigo que resiste, sob a proficiente orientação da família do canteiro António Clérigo, uma das
poucas serrações de pedra em laboração
no concelho de Cascais. Mas a serração
fica do lado norte da estrada e o casarão em ruínas, ou melhor, os casarões em
ruínas ficam do lado sul. Aí houve florescente exploração
agrícola (Fig. 1) pertencente à família Canas, que a vendeu ao empresário
Américo Santo, na altura em que se chegou a pensar que nesse local ou nas suas
imediações poderia vir a instalar-se o novo hospital de Cascais. Essa hipótese
foi gorada devido às diligências efectuadas durante o mandato de António Capucho, altura em que se negociou a localização actual, nos terrenos de Alcabideche e Cabreiro, que
eram do Ministério do Exército. Outros planos para o local se goraram também,
por isso mesmo, e a ruína foi tomando conta de tudo, na esperança de melhores
dias.
A
foto publicada e cuja identificação
se pedia (Fig. 2) mostra o exterior (é de pedra, sim, caríssima Neyde, tudo se construía
de pedra e não de tijolo naqueles recuados tempos!...) do que foi a vacaria.
Ora observe-se a fotografia do interior (Fig. 3), com a comprida manjedoura e o
travejamento do telhado que resiste. São fotos que devo à amabilidade do Doutor
Guilherme Cardoso, que nunca se cansa de fazer o registo do património em
riscos de se perder.
Que
vai acontecer a esse aglomerado de prédios em ruínas?
O
tempo e as políticas o dirão.
Para
já… são ruína de um passado – até aos anos 60/70 – em que no interior do
concelho de Cascais se vivia da agropecuária, informação
que poderá ser por muitos hoje desconhecida, quando olham apenas para o Cascais
litoral, urbano e balnear. Esse é outro Cascais, sofisticado; este, o que vivia
da terra, mais… natural!
José
d’Encarnação
Fig. 1 - O conjunto das edificações em ruína. |
Fig. 2 - O exterior da vacaria. |
Fig. 3 - O interior da vacaria. |
Que bom ter quem, com sabedoria e sensibilidade, nos vá mantendo a par do património que resiste à passagem do Tempo e à distracção dos poderes. Devia ter sido este Cascais rural a suportar a parte urbana do concelho, mas quem se importa do que foi?
ResponderEliminarUm grande abraço e parabéns pelo belo texto.
Madalena
Obrigada, Professor
ResponderEliminarMais um novo artigo a incluir no meu arquivo dos seus Comentários, garantindo que, sempre que necessário e desejado, possa verificar se o alerta lançado foi percebido por quem de direito e com responsabilidades administrativas para preservar e/ou fazer preservar este e outros patrimónios que, por si só, nos trazem História e memórias do que foi o que hoje é, um dos Concelhos mais badalados, o de Cascais. Bem haja, Professor! Um obrigada, também, ao Doutor Guilherme Cardoso. Manuela Duarte