Já
sublinhei que, mais do que a criação de uma específica ‘secção’ camarária, o
que a mim me interessa é que a Cultura continue a deter papel relevante, nas preocupações
dos executivos de câmaras municipais e de freguesias. Que não seja mais um
pelouro a acrescentar ao das escolas, da segurança social, do desporto… Bem sei
que não há vereadores que cheguem, até porque se está a adoptar, cada vez mais,
a política de só dar pelouros aos correligionários e também a de os vereadores
da oposição se recusarem a receber pelouros. Não estou a referir-me
expressamente a Mangualde, entenda-se, mas ao geral do País e ao paradigma
europeu vigente. O que eu quero frisar é que o lugar da Cultura deve ser
especialmente acarinhado – e creio não ser necessário explicitar porquê.
A
segunda reflexão que o livro de António Tavares me sugeriu advém do motivo
escolhido para a capa: a fotografia de um valado, onde, em determinado momento,
foram utilizadas duas estelas antropomorfas, possivelmente modernas, que o
autor, aliás, já estudou (Beira Alta, LXX, 2011, p. 159-172), após um olhar perspicaz as
haver identificado. Para dois aspectos desejo chamar a atenção.
‒
O primeiro, esse, de que não é raro vermos pedras antigas, com grande
significado histórico, serem aproveitadas em novas construções. E recordarei,
até, que, nas minhas primeiras colaborações neste jornal (foi o caso, por
exemplo, da publicada em 01-11-2011), me ocupei de inscrições romanas
encontradas em construções. É esse olhar perspicaz que se requer.
‒
O segundo prende-se com o facto de, em meu entender, não se trata apenas dessas
estelas que deves considerar-se património, entendendo este como ‘signo identitário’:
é o próprio valado de pedra seca! A meu ver, constituem esses valados uma marca
deveras eloquente na paisagem, porque significam o sábio aproveitamento das
pedras que pelos campos estavam e, além disso, são, com muita frequência,
exemplo de uma técnica construtiva que não se deverá perder. Já se reparou que
esses muros estão ali, sem cair, há muitas dezenas de anos?
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 643, 15-07-2014, p. 12.
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