domingo, 27 de julho de 2014

A Sintra de Raul Lino

            Dir-se-ia, ao primeiro relance, que sobre Sintra e sobre Raul Lino (1879-1974) tudo está dito e redito e nada vale a pena repisar; contudo, é tão sedutor aquele património turístico-cultural, é tão multifacetada a personalidade do arquitecto que sempre pugnou pela manutenção de um estilo de ‘casa portuguesa’ contra as ousadas inovações hauridas na estranja – que não será despropositado, ainda que por breves momentos, pensar num e noutro.
            E vem esta proposta no seguimento de Rodrigo Sobral Cunha (que se doutorou em Évora, no ano de 2001, com uma tese acerca da harmonia do Universo) ter seleccionado textos e desenhos de Raul Lino sobre Sintra, onde o arquitecto passou boa parte da sua vida. Trata-se do livro Sintra, editado este ano de 2014 pela Colares Editora (ISBN: 978-972-782-152-5).
            Sobral Cunha faz o estudo introdutório, em que procura integrar os textos e as imagens que escolheu na perspectiva de melhor se compreender o pensamento de Raul Lino em relação à Natureza, palavra que ele sempre escreveu com maiúscula, como «património da Nação» (p. 15).
            Não se assume, naturalmente, como ‘guia turístico’ nem tal expressão aparece nalguma das 150 páginas do livrinho; no entanto, desta sorte pretendeu Sobral Cunha comemorar o «centenário da inauguração da Casa do Cipreste, a moradia de Raul Lino em Sintra e que o arquitecto-inventor considerou a única das obras que pôde fazer em liberdade completa. Sintra em fôrma de casa ou casa em fôrma de Sintra» (p. 21).
            E há uma designação que justifica esta nota em clave turística: é livro para o «viandante contemplativo»! Sintra será essa sucessão de moradias românticas a espreitar por detrás de variegada vegetação ímpar e multissecular; será a tradição das suas queijadas e travesseiros; o misterioso Castelo dos Mouros ou o não menos misterioso e altaneiro Palácio da Pena… mas, para usarmos uma expressão do próprio Raul Lino, aí até «os frequentes nevoeiros, tão caluniados e detestados, são como dobras de renda branca a roçar pelo colo dos montes, a enredar-se nas fidalgas cameleiras de jardins decadentes».
            Um ‘roteiro’, pois, para… saborear!
 
Publicado na Newsletter nº 9 do Departamento de Turismo da ULHT, 27-07-2014,

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