Teve
o percurso normal das crianças dessa altura: fez a quarta classe na escola
local e começou de imediato a ajudar os pais na faina agrícola, iniciando-se
também no trabalho da pedra, que era já uma tradição de família, nas pedreiras
ali perto, nos Funchais.
Alistado
no exército, fez parte do contingente que, em 1942 e 1943, esteve nos Açores,
numa altura em que o arquipélago detinha, como se sabe e como ainda tem hoje,
uma posição estratégica no quadro da II Grande Guerra (os submarinos alemães
andavam por perto…). Regressado à terra natal, atendeu ao chamamento que era
feito às gentes do Corotelo e de Bordeira para, em Cascais, trabalharem a
pedra, numa altura em que se programavam grandes obras públicas na capital e,
tal como sucedera no passado, desde o tempo de D. Manuel I, era de Cascais que
ia a pedra para esses edifícios.
Em
Cascais, onde jaz sepultado, acabaria Manuel dos Santos por organizar toda a
sua vida, constituindo família e tornando-se um dos canteiros algarvios mais
conhecidos na freguesia, pela habilidade e rapidez com que trabalhava e sabia
organizar o trabalho. Vergas, peitoris, soleiras, forro a ponteiro, cunhais, o
escopro de dentes, a bujarda, o badame, o maçacopas, a maceta… eram, pois, as
palavras do seu quotidiano. E, de canteiro, passou a ser também ele, a partir
de determinada altura, o concessionário da exploração de pedreiras, interpretando
os desenhos dos arquitectos e construtores e escolhendo com argúcia, para dar
satisfação às encomendas, as pedras mais a preceito. Laborou na última fase da
sua vida profissional em serrações, pois aí se necessitava mais de quem, como
ele, ‘tratava a pedra por tu’.
De
trato muito afável, pode dizer-se que constituiu Manuel dos Santos um dos
últimos representantes daquele significativo grupo de são-brasenses que está na
origem da «colónia são-brasense» na freguesia de Cascais. Com ele se perde – porque
não houve oportunidade de lha ouvir contar – parte da história de um pós-guerra
das nossas gentes, cada vez mais difícil de reconstituir, porque vão
desaparecendo os seus ‘actores’, livros que ardem sem que nos tenha sido
possível fazer deles uma leitura adequada…
À
família enlutada, nomeadamente à viúva, Esperança Sousa, e aos seus dois irmãos
ainda vivos e que no Corotelo se mantêm, a Francisca Baptista dos Santos Gago e
o Lázaro dos Santos Baptista, endereçamos mui sentidos pêsames.
Publicado em Notícias de
S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 212, 20-07-2014, p. 21.
Vidas muito ricas, livros que se perdem. Divulgação preciosa. Obrigada.
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