Recordo, com frequência, a situação de alguma desorientação
que tive numa cidade espanhola. Não encontrava determinada rua no mapa. Cheguei
a um café, que se situava ao lado de uma igreja, entrei e perguntei ao senhor,
para mais facilmente me orientar na pesquisa, como se chamava aquela igreja. O
senhor, pareceu-me dos empregados mais antigos do café, desconhecia por
completo como é que a igreja se identificava.
Também
acontece que alguém, ao perguntar por
uma rua, verifique que o seu interlocutor, morador do bairro, não saiba
responder. É mesmo capaz de garantir que nunca em tal ouvira falar!
Faz-me
pena. Todas estas situações revelam quanto se vive apressadamente, se não tem
atenção à realidade circundante e, claro,
também não se tem em conta o significado último do nome dado a uma rua.
A
este propósito, permita-se-me que transcreva uma passagem do sempre benquisto
livro de João Lourenço Roque, Diversões
Interiores. No II volume,
publicado em 2017, diz o seguinte:
«Todas
ou quase todas as aldeias da freguesia de Sarzedas passaram a ter os nomes das
ruas assinalados em sugestivas placas toponímicas, facilitando a vida aos carteiros
e aos turistas, ávidos de mundos perdidos, e libertando do esquecimento
singelas e fundas heranças culturais. Em geral, optou-se por nomes antigos, que
corriam de geração em geração» (p. 177).
Adiante,
João Lourenço Roque, depois de criticar as malfadadas repetições, sugere que as
comissões de toponímia poderiam também ser «mais criativas e originais,
perpetuando figuras humanas muito populares e importantes na identificação local e na memória colectiva».
Dois nomes da mesma rua |
É
verdade. De um lado, afigura-se-me importante que se mantenham as tradições, as
designações antigas, muitas delas até patentes nas escrituras dos imóveis; mas,
por outro, não é preciso ser uma personagem ilustre ou muito ilustre a nível nacional,
pois há singelas figuras locais, típicas ou beneméritas, que merecem ter o seu
nome impresso numa placa toponímica.
As
designações das ruas constituem também uma forma de perpetuar a memória de quem,
denodadamente, procurou trabalhar em prol do bem comum.
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 746, 15-01-2019, p. 11.
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