–
Avô! Avô!... Tens 3 notas de 20 euros?
–
Não, não tenho; mas querias, era?
–
Sim, para comprar o camaleão!... Onde é que achas que eu posso arranjar?
Uma
paixão pelos animais; guarda caracóis numa caixa, leva marias-café para casa…
Recebera
eu, no dia anterior, o habitual postal de Boas Festas do Professor Jorge Paiva,
do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra, um dos mais indefectíveis
defensores da biodiversidade. E trazia duas fotografias de leoas. Panthera leo, de seu nome científico,
explica a legenda, da subespécie melanochaita.
Uma, tirada em Hlane (Suazilândia) a 2 de Julho de 2017, mostrava-a
«atentamente em guarda»; na outra, colhida a 13 de Agosto de 1999, em Nakuru,
no Quénia, refrescava-se a leoa «serenamente, no ramo de uma acácia»…
Todos
os anos, Jorge Paiva nos relembra a necessidade de se preservar a
biodiversidade, porque o Homem surgiu «quando havia o máximo de Biodiversidade
no Planeta Terrestre e numa região africana de elevada Biodiversidade».
Aponta
o «clamoroso» erro de se promover a extinção de muitas espécies, partindo-se do
princípio de que não servem para nada, «pois constantemente se descobrem utilidades
de seres que menosprezamos e até de seres venenosos e letais (ex. teixos e
víboras».
E
as fotografias das leoas servem para alertar para a extinção desta espécie, que
ainda existia na Europa, conforme relata Aristóteles, no século IV a. C. e que
viria a desaparecer daqui durante o século II da nossa era. É que, na verdade,
a referida subespécie só sobrevive actualmente na África Oriental e do Sul.
Justifica-se,
pois, plenamente o seu voto: «Que a época festiva do final do ano ilumine a consciência
de todos nós, de modo a pressionarmos governantes e políticos a assumirem o
compromisso de preservar a Biodiversidade».
Afinal,
tem inteira razão o meu neto : todos
os animais se devem preservar e estimar, caracóis ou camaleões que sejam. Todos
têm a sua utilidade!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 745, 01-01-2019, p. 11.
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