quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

E depois do espectáculo…

              No auditório do Casino Estoril, houve, na passada semana (dias 14 a 16), o espectáculo, protagonizado por Wanda Stuart, a que se deu o significativo nome de «Rouge», ‘vermelho’. Vermelho como o ‘Moulin Rouge’, vermelho como as lâmpadas que envolvem a secreta e misteriosa intimidade.
            Wanda Stuart é o nome artístico; o verdadeiro, dizem, guarda-o ela a sete chaves, embora se depreenda que Stuart é de sua mãe, Maria Stuart, cabo-verdiana. Wanda, alfacinha, nasceu a 6 de Janeiro de 1968. A azougada menina desde cedo decidiu singrar o caminho por si, compondo a pouco e pouco um repertório de canções célebres, com que encantava a clientela dos bares por onde foi treinando e aperfeiçoando as qualidades que a deveriam guindar ao mundo do espectáculo, em que acabou por brilhar, acarinhada, como foi, por Júlio Isidro, João Baião, Filipe La Féria (participou em ‘Maldita Cocaína’).
            O seu mundo é o da canção; o género ‘musical’, aquele em que se sente mais à vontade. E assim se viu, em «Rouge», espectáculo com direcção artística de Amy Ruffell e Cecilia Carneby, em que interpretou, bem ao seu jeito, as canções eternas que eram voga – acentue-se – na década em que nasceu: «Ne me quitte pas», de Jacques Brel, publicada em 1959; “La vie en rose”, da imortal Edith Piaff, de 1946, que se ornara imortal também. A canção francesa no seu auge, que bem se casa, mesmo sem o querermos, com o lado sentimental que sempre envolveu a alma portuguesa.
            Sim, aqui, mais uma vez, brilhou a versatilidade da protagonista, que se desdobrou em personagens, cantou e dançou, integrando-se em pleno na adequada coreografia que perpassa por todo o espectáculo.
            Os fadistas, quase no fim da sua actuação, apresentam ao público os seus acompanhantes e nós aplaudimos cada um. Em «Rouge» faltou essa apresentação e o aplauso foi geral. Tanto as seis esculturais bailarinas (passe o lugar-comum, mas… é a verdade!) como os dois excelentes bailarinos (aprimoraram-se na expressão corporal!) ficaram no anonimato! Gostaríamos de ter recebido uma simples folhinha em que estivessem consignados os seus nomes. Gostámos muito de os ver, de apreciar a sua desenvoltura e rigor; mas não teria sido despiciendo que a sua identificação nos tivesse sido comunicada – porque elas e eles bem no mereciam.
            Aliás, para alguns de nós, frequentadores dos espectáculos do Casino Estoril desde essa década de 60, não terá sido difícil recuar a esses tempos dos «shows» quotidianos no salão-restaurante, com as plumas das Blue Bell Girls, por exemplo, um dos grupos de bailado que mais terá ficado na mente dos frequentadores de então.
            Sugerindo as noites quentes no parisiense Moulin Rouge, o anúncio suscitava de imediato a curiosidade, até porque a produção se encarregara de salientar que o objectivo fora «promover o corpo feminino de uma forma sensual», acrescentando uma frase com dois adjectivos não menos sedutores: proclamava-se que seria «atraente para os homens» – o que era, à partida, deveras compreensível – mas, leia-se bem, «fortalecedor para as mulheres»! No sentido de ser, de facto, um hino à beleza feminina.
               Portanto, depois do espectáculo.o aplauso, de pé, não podia ter sido maior!

                       José d’Encarnação
 
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 269, 2019-02-20, p. 6.
Fotos gentilmente cedidas pelo Gabinete de Comunicação do Casino Estoril.


O frenético can-can final acompanhado pelas palmas do público!

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