O Doutor José Maria Amado Mendes, professor
catedrático aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, cedo
encaminhou a sua investigação para o
estudo da história das empresas em Portugal. Aliás, não foi inocentemente que,
na década de 80, propôs a criação,
na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, da cadeira de Arqueologia Industrial.
Essa unidade curricular começou a
ser leccionada em 1987-1988, numa altura em que esse tema ainda se não abordava
em Portugal, cadeira que nasceu da necessidade de se procurarem analisar e, na
medida do possível, salvaguardar os vestígios ainda existentes de muitas
empresas, designadamente de carácter fabril, cujas instalações, abandonadas
após a cessação da actividade, se deterioravam
a olhos vistos, sem que delas se fizesse o registo devido.
Não apenas esses espaços materiais,
arqueológicos, interessavam. É que, amiúde, numa ânsia de modernização ou, por vezes, de menosprezo pelo passado, se deitavam
fora – ou mesmo destruíam – documentos que hoje seriam preciosos. Todos se
recordam dos crimes de leso património que se cometeram logo após o 25 de Abril
com essa destruição de muita documentação do maior interesse para a História!
Várias têm sido, por isso, as obras
que, por iniciativa do Doutor Amado Mendes, se publicaram, resultado de mui
cuidada investigação dos arquivos
que se não perderam. Citem-se apenas algumas, todas elas concretizadas após se
ter aposentado: História do Abastecimento de Água a Coimbra, vol.
I: 1889-1926 (2007), vol. II: 1927-2007 (2009); «O Papel e a Renova: Tradição
e Inovação» (2008); Manuel
de Mello: O Homem e a Obra (2008); Construção Naval (2013);
Dicionário
de História Empresarial, vol. I: Instituições Bancárias, vol. II: Seguradoras (ambos em 2013); «Empresas e empresários no final da Monarquia
e na I República: Industrialização
em processo acelerado» (2014); Novos
grupos económicos no distrito de Aveiro: Famílias Pinho e Amorim (2015); «Os Museus devem dedicar atenção
ao Património Industrial e Técnico» (2015); «A Indústria em Portugal, de Pombal à República: Revolução Industrial ou industrialização» (2017).
O sector dos seguros, por exemplo,
dada a sua íntima ligação com a vida
das pessoas e das instituições, tem-lhe merecido a maior atenção. Por isso, um dos mais recentes trabalhos do
Professor, desta vez em colaboração com
Duarte Manuel Freitas, é o livro Zurich em Portugal. 100 anos de História.
Um compromisso com o Futuro (1918-2018) [Lisboa, 2018], fruto de uma investigação que a própria Zurich Portugal houve por bem
patrocinar e publicar. Louve-se, desde logo, a atitude da empresa, por ter
consciência de que o presente e o futuro (passe o lugar-comum) se alicerçam na
experiência adquirida.
Trata-se da história de uma
importante companhia de seguros, nas comemorações do seu centenário, com base
na exploração da numerosa e
diversificada documentação do seu
arquivo, bem como de fontes orais e várias outras. As suas raízes remontam a
1918, quando foi criada, em Lisboa, a Companhia de Seguros Metrópole.
Em 1950, o Grupo Zurich, sediado na
cidade do mesmo nome e com uma longa história e grande experiência
internacional na actividade seguradora (desde 1872), adquiriu a quase
totalidade das acções da Metrópole, pelo que passou a ter um papel activo na respectiva
gestão, através do seu representante, como elemento preponderante no Conselho
de Gestão.
Todavia, as raízes da Metrópole
mantiveram-se bem vivas ao longo do tempo, inclusive na própria designação de "Metrópole" que adoptou até aos
finais do século XX, quando passou a usar a denominação
de Zurich.
Através de novos e actualizados
métodos de gestão e da competência e empenho dos seus numerosos colaboradores,
a Zurich foi diversificando a sua oferta em diversos ramos de seguros, de forma
inovadora, alargando o âmbito da sua acção
a todo o País, pelo que, a partir de certa altura, se guindou a um honroso 5.º
lugar, no leque das seguradoras a operar em Portugal.
Muito há, por conseguinte, a esperar
ainda de José Amado Mendes, que prepara neste momento, segundo tive ocasião de
saber, uma comunicação sobre seguros
em Portugal no século XX, a apresentar em Santiago do Chile, em finais de Julho
próximo, no Congresso Latino-Americano de História Económica, em que coordenará,
com Mario Cerutti (da Universidade de Nuevo Léon, Monterrey, México), uma
sessão sobre Serviços. Celebrar-se-á assim mais uma presença da Academia de
Coimbra no país irmão, através de um dos seus membros que, embora aposentado, continua
a fazer uma investigação digna do
maior encómio.
José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal, 16-02-2019:
Fica aqui um exemplo de boas práticas, da Secil, no que toca à salvaguarda e tratamento dos seus arquivos: AHFML
ResponderEliminarObrigado pelo seu excelente trabalho como comunicador de história J. d’E.!
Excelentes projectos e estudos.
ResponderEliminarObrigada pela partilha!