Teve o Executivo Camarário de S. Brás de Alportel,
minha terra natal, a gentileza de me convidar para presidir à Comissão das
Comemorações do 1º Centenário de Elevação
a Concelho, que se realizaram, com muito brilhantismo, de 1 de Junho de 2014 a 1 de Junho de 2015. Dei
na ocasião uma entrevista, de cuja publicação
só agora me apercebi. Permita-me, Amigo, que partilhe consigo o que então disse
e vem na pág. 2 de São Brás Municipal, nº
3, Outubro de 2014.
Ø Como
descreveria em poucas palavras o que significa para si este Centenário do
Município de São Brás de Alportel?
Uma velha senhora que soube, ao
longo de cem anos, acumular experiências e que encara agora o seu futuro e o
dos seus descendentes com um entusiasmo juvenil, sonhando transformar o seu
habitat num éden de leite e mel…
Ø Uma
memória que gostaria de destacar?
O
extraordinário convívio com os mais velhos, em criança, não apenas com meus
avós mas também os vizinhos que muito me acarinharam e me ensinaram (todos!) as
coisas simples da vida: a não ter medo dos calos nas mãos; a varejar a azeitona,
a amêndoa e a alfarroba; a identificar o sete-estrelo e todas as constelações;
a andar de burro; a acarrear água num
poço de nascente rala; a saborear pela manhãzinha os figos melosos da figueira
de dois-à-folha; a não ter medo dos lobisomens cujas histórias ouvia à lareira;
e a saber que aquelas ruínas, em Estói, quando se ia para Olhão, eram «coisas
do tempo dos Moiros»!...
Ø Mas a que sabem as memórias?
Um figo
seco longamente chupado à sorrelfa de minha avó materna. Ainda o guardo na boca
– parece – qual testemunho de um tempo sem tempo, em que estava totalmente
desperta a minha capaci dade de me maravilhar
com um quotidiano singelo e terno.
Ø Como historiador, considera-se um homem de
passado ou de futuro?
Nem um
nem outro. Quero ser um homem do presente. Que procura acolher de bom grado o
que vai aprendendo e que, serenamente, alimenta a vontade de vestir de cores
alegres o momento que lhe é dado viver.
Ø Que
mensagem gostaria de deixar aos jovens, os homens do próximo centenário?
Amigo: saboreia
a vida, aproveita todas as oportunidades, pois que nada acontec e por acaso. Não queiras assentar praça em
general: é errando que se aprende, é fazendo que se ganha experiência. E,
sobretudo, planta orquídeas no jardim do teu pensamento e não cardos; o
pensamento comanda a vida e, se pensares que não consegues, não vais conseguir
mesmo; se, ao invés, achares que és capaz, podes não conseguir hoje, mas… vais
conseguir!
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