Uma pedrada no
charco! Usa-se a expressão, como é sabido, para explicar que algo de novo
surgiu, inesperado, a mexer a
normal
quietude dos charcos, onde apenas as libelinhas vão, mui rápidas, ao de leve poisando,
as rãs passam o dia pachorrento ao sol e só de quando em quando, e apenas
nalguns mais duradouros, se enxerga esquiva cobrinha coleante…
Não
gostam de pedradas os poderes constituídos e, se de charcos perguntarmos aos
nossos amigos, são capazes de também torcer o nariz, que logo se pensa em
‘mosquitame’ e bichezas do género...
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Triops vicentinus |
Eu
cá gosto dos charcos – pela sua quietude e por suspeitar de vidas inúmeras lá
dentro… Já gostava, mas agora passei a gostar mais, depois de, no programa da
Antena 1 “José Candeias – Hà Conversa”, de 11 de Fevereiro, Artur Lagartinho ter
dado conta do que era o projecto Life Charcos, que, com o apoio de programas
europeus, a Liga de Protec
ção da
Natureza (LPN), em colabora
ção com
algumas autarquias, está a levar a cabo na costa sudoeste, desde Sines a
Sagres. A ideia é consciencializar as populações da importância dos charcos
temporários mediterrânicos, pois são o habitat de muitas espécies. Referiu-se,
de modo especial, à existência aí do «triops vicentinus», uma espécie de
camarão girino, crustáceo que apenas existe nos charcos desde Vila do Bispo até
Faro
e que sobrevive enterrado 7 anos sem água!
No fundo, a preserva
ção desses
charcos contribui para a biodiversidade.
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A lince Myrtilis acabada de soltar, em Fevereiro de 2016 |
Eu
divulgara, no dia
8, a
notícia de que «Myrtilis», uma lince fêmea, fora largada nos arredores de
Mértola, no âmbito do programa de preserva
ção
desta espécie. E logo Eugénio Sequeira, da LPN, comentou:
–
Depois de solto, tem que haver ecossistemas que sejam próprios.
Assim,
em 2011, o projecto “Recuperação do Habitat do Lince Ibérico no Sítio
Moura/Barrancos” (2006/2009) foi distinguido, por isso mesmo, pela Comissão
Europeia como um dos 6 “Melhores entre os Melhores Projectos LIFE da Europa”. E
para que continuemos a ter abetardas, falcões e outras espécies, importa
combater a desertificação e, por estranho que pareça, manter os charcos,
também eles alfobre da indispensável biodiversidade!
É
por isso que me sinto cada vez mais contente quando vejo melros, toutinegras,
pardais e rolas saltitarem de ramo
em ramo na cameleira, na romãzeira, na buganvília, no ficus, no aloés e no
pitósporo do meu jardim…
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 680, 01-03-2016, p. 12.
Ana Teresa
ResponderEliminarAdorei o texto, Professor. Obg
Margarida Lino
ResponderEliminarZé, a propósito de charcos, lembrei-me de um pequeno riacho que passava perto da tua casa quando éramos pequenos, havia nele muitos girinos, e muitas vezes ficávamos ali a brincar a caminho da escola. Saudade desse tempo em que se podia brincar na rua sem problemas, o que não acontece agora com as nossas crianças, enfim é a evolução dos tempos, bjs
José d'Encarnação
EliminarEsse 'riacho' é nada menos do que o «Rio dos Mochos» que vai desaguar na Praia de Santa Marta! Empoçava, de facto, antes de passar o pontão sob a estrada Birre/Torre, porque o leito afundava ali um pouco mais. E dos girinos vinham as rãs e era uma algazarra. Aí recebia um minúsculo afluente que vinha da zona do poço velho de Birre e que recolhia as águas das terras onde está hoje o Centro Comercial; essa ribeira ladeava a estrada para poente e tinha muitos ulmeiros.
Aurora Martins Madaleno
ResponderEliminarProfessor, gostei de ler o poético desabafo de que se sente "cada vez mais contente" quando vê "melros, toutinegras, pardais e rolas saltitarem de ramo em ramo na cameleira, na romãzeira, na buganvília, no ficus, no aloés e no fitósporo" do seu jardim… Tem muita sorte!
Tenho consciência disso, Aurora! Bem haja pela atenção!
EliminarMarici Magalhaes
ResponderEliminarBelo texto prof José d'Encarnação! Quanta sensibilidade! Grande abraço!
Amy Madeira
ResponderEliminarComo sempre, colocou o dedo na ferida! Beijinho
Domingos Barradas
ResponderEliminarBelo e saboroso texto, escrito por quem sabe transmitir ensinamentos de forma cativante.
Um abraço de amizade e elevado apreço.
ResponderEliminarDe: Jorge Paiva [mailto:jaropa@bot.uc.pt]
2 de Março de 2016 08:19
Gostei muito do texto, felicito-o e arquivei para o mostrar a outros.
Filomena Ribeiro
ResponderEliminarExcelente, Professor. Levo.
De: António Emídio Moreira Santos quarta-feira, 2 de Março de 2016 15:32
ResponderEliminarAssunto: Myrtilis
Pois, meu caro, mas por vezes as notícias não são boas, nada boas…
Segue texto de comunicado que seguiu do ICNF para a Comissão de Acompanhamento do Plano de Ação para a Conservação do Lince-Ibérico em Portugal (PACLIP):
“Ontem, dia 01 de março, Myrtilis, fêmea reintroduzida a 25 de janeiro e libertada na natureza no passado dia 8 de fevereiro no âmbito do projeto “Recuperação da Distribuição Histórica do Lince Ibérico (Lynx pardinus) em Espanha e Portugal (LIFE+10/NAT/ES/000570), foi encontrada morta, pela equipa de campo do ICNF, numa zona próxima do local de solta, no decurso da monitorização dos animais reintroduzidos na região de Mértola. As causas da morte deste exemplar são ainda desconhecidas e vai ser encaminhado para a Faculdade de Medicina Veterinária para realização de necropsia e apuramento das mesmas.”