Ao
recordar frases e termos da minha infância, tenho procurado deles me fazer eco
nesta coluna; hoje, porém, surgiu-me uma dúvida teórica: não poderá ser o falar
um património «móvel»?
Trata-se,
evidentemente, de uma pergunta capciosa, a jogar com o facto de serem
património móvel os objectos; contudo, pôs-se-me a questão, ao recordar um
diálogo com meu pai:
‒
Ó pai, sabe do Benfica? (‘Benfica’ era o nome que invariavelmente dávamos aos
nossos cães, em homenagem ao clube).
‒
Não sei. Se calhar, foi para aí dar um viajo e já volta.
Corri
aos dicionários: «viajo» não consta! Para meu pai, significava «uma volta», «um
giro»…
Isso
levou-me a tentar resolver outra polémica que tenho, por considerar «obrigado!»
uma interjeição e, por isso,
invariável, não sujeita a determinismos de género. Qual não foi, porém, o meu espanto,
quando, consultando o dicionário da Academia, li, na p. 2636, que «obrigado» é
mesmo uma interjeição («Exclamação que exprime agradecimento». E qual é o exemplo
que dão? Este e só este: «‒ Obrigada,
disse a senhora». Pasmei!
José d’Encarnação
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 206, Março de 2016, p. 10.
Margarida Lino Ontem às 14:50
ResponderEliminarZé Manel, afinal em que ficamos, deve dizer-se obrigado ou obrigada. caso seja uma senhora a agradecer? Espero que esclareças a minha dúvida e, até lá, vou dizendo obrigada! bjs
Gosto • Responder •
Lourenço Sousa
E o Lourenço continua com dúvidas: amigo Zé d' Encarnação...... Obrigado, quando é um homem a agradecer?.... e Obrigada quando é uma senhora??
Em 15 de Abril de 2013 escrevi aqui http://notascomentarios.blogspot.pt/2013/04/obrigado-e-interjeicao.html onde sublinhava que, sendo interjeição, a palavra obrigado era invariável e, por isso, deveria sempre dizer-se «obrigado!», quer se trate de homem ou de mulher quem fala. Essa posição mantenho, embora tenha de me curvar – e por isso escrevi agora este novo texto – à evolução da língua. E se é o próprio dicionário da Academia que dá o exemplo… nada mais tenho a dizer.
Num sítio de dúvidas, aponta-se a seguinte conclusão:
«Como conclusão, pode dizer-se que uma mulher pode agradecer de forma correcta com obrigada (utilizando um adjectivo que concorda em género e número com o sujeito falante) ou com obrigado (utilizando uma interjeição, que é invariável), mas um homem só deverá agradecer com obrigado, pois esta forma é a do adjectivo masculino singular e da interjeição».
Da minha parte, prefiro usar – como sabem – uma expressão bem portuguesa «Bem haja!», como também o faz Aurora Madaleno, até porque essa pode ter flexões: «bem hajas!», «bem hajam!» ou mesmo ser utilizada como nome e, nesse caso, com hífen: «Aceite o meu bem-haja!».