Escusado
será dizer que há ali de tudo, numa encantadora panóplia de imaginação, ironia,
saber popular, tradição, engenho, dedicação… a provar que, na verdade, de
qualquer trapo, por mais velho que pareça, pode brotar, em estreita comunhão
com outros, mui deliciosa obra-prima.
Uma
exposição que valeria a pena poder estar mais tempo e – porque não? – ser
itinerante. Estavam na inauguração presidentes das juntas de Alcabideche, Cascais-Estoril,
S. Domingos de Rana… qualquer deles tem salas de exposição, poderia pensar em
apresentar lá essas bonecas de trapos, a fazer as delícias de miúdos e graúdos,
sem dúvida!
Teve
pompa e circunstância a sessão de abertura, com passagem de modelos, montados
em bicas, perante mais de meia centenas de pessoas (sobretudo dos centros de convívio
e funcionários da Santa Casa), no pátio interior da Misericórdia, com sábia
apresentação por uma das técnicas da Câmara, entidade que se associou ao
evento.
Falou a Senhora Provedora
Aproveitou
a Senhora Provedora, Dra. Isabel Miguens, para louvar o trabalho desenvolvido
pelos utentes, sob orientação das mais directas responsáveis pelos centros, salientando
que as obras destes «militantes da sabedoria da vida» mui eficazmente contribuíam
não apenas para «dar vida aos trapos», mas também «para devolver cidadania aos artífices».
Num
trocadilho pleno de oportunidade, aludiu ao facto de que, se tudo isso «custa
fazer», se calhar, muito mais «custa não fazer»!
E,
em jeito de desafio ao presidente da Câmara, também ele Irmão da Santa Casa,
sublinhou quanto importaria que à «academia do saber» que a Câmara desenvolve
se deveria unir essoutra academia, «a do fazer».
Não
desprezando igualmente a possibilidade de se referir aos problemas que afectam
a chamada «terceira idade», frisou que se conhecem os custos da doença, mas se
desconhecem, de facto, os custos da prevenção – e nestes importa investir.
O discurso político
Embora
– como teve o cuidado de lembrar – não tivesse intenção de fazer um discurso
eleitoralista, porque ainda faltam alguns anos para novas eleições autárquicas,
o presidente da Câmara começou por afirmar que muito deve Cascais à Santa Casa,
pelos séculos de serviço que tem prestado a população cascalense necessitada.
Aproveitou,
no entanto, para dar algumas notícias de interesse:
1ª) Resolveu-se o problema da praça de touros, que muito trazia preocupados, desde
há bastante anos, os responsáveis pela Misericórdia, por ter sido reprovado
pelo executivo de António Capucho o Plano de Pormenor, aprovado no tempo de José
Luís Judas, do empreendimento previsto para o sítio onde se arrasou a praça de
touros, no Bairro do Rosário. Assim, acertou-se que, em vez dos 29 000 m2
de construção previstos, apenas se fariam 20 000 e que não se
atingiriam os 16 ou 17 andares iniciais, mas somente a altura a que estava a
praça de touros, não mais. Desta sorte, com a verba agora recebida e que esteve
cativa durante todos estes anos, foi possível à Santa Casa pagar as dívidas
todas (designadamente a dos juros sempre em aumento…) que a vinham atormentando.
«Todos estamos de parabéns!».
2ª)
No que concerne ao Bairro Marechal
Carmona, que ora passou na totalidade para a posse da Câmara, também por
efeito do protocolo assinado com a Santa Casa, garantiu o presidente que todos
os que lá moram lá continuarão a morar, em melhores condições, porém. Em
segundo lugar, haverá a preocupação de dotar o bairro de maiores facilidades de
mobilidade para os moradores. Finalmente, haverá equipas para os acompanhar,
numa perspectiva de «envelhecimento activo», porque – importa não esquecer! –
os anciãos são também como que essa «academia do saber» de que falava a Senhora
Provedora. Nesse sentido, há já duas equipas universitárias, uma do Instituto
de Ciências Sociais e outra da Faculdade de Arquitectura a fazer aturado estudo
da situação, a fim de vir a ser possível lançar as necessárias propostas de
reabilitação das estruturas e, consequentemente, da melhoria das condições de
vida dos habitantes.
3ª)
E já que se falava em famílias, não quis o presidente deixar de informar que –
para além de a Câmara ir colaborar activamente na recuperação da igreja da Misericórdia,
como importante património edificado da vila – os Paços do Concelho passaram a ser a «casa da família de Cascais»,
porque estão abertos, podem ser visitados, nomeadamente para se verem de perto
os magníficos painéis de azulejos não só os da escadaria de acesso ao primeiro
andar como, de modo especial, os da sala de reuniões. Não se referiu o
presidente ao azulejo que identifica – mal – os Paços do Concelho, pois que diz
ele ser ali o “Município de Cascais” e, como sabemos, não é apenas ali, por
mais que algum aventureiro, um dia, por isso possa vir a pugnar!
José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal, edição de 27-10-2018:
Foi numerosa a assistência |
Instantâneo da apresentação da passagem de modelos |
E que trajar!... |
Então não sou uma beleza, ora digam!... |
Quão vaidosa que eu estou!... |