–
Qual é a coisa, qual é ela…
Que
é, que não é. Surgiram as hipóteses mais absurdas, tudo na brincadeira, porque
a ignorância da resposta era geral.
O
Vasco foi fazendo caixinha: «Então ninguém sabe?» «Vão ver que é fácil muito
fácil mesmo!».
Ninguém
sabia.
–
Vamos, desengoma-te lá na resposta!
–
O relógio parado!
Era
mesmo!
E
o pensamento voou dali para outros horizontes:
·
A nossa preocupação, quando temos visitas, de parar o relógio de sala, que
herdámos e tem mais de cem anos, para que o toque das horas e das meias-horas
não incomode quem vai dormir no quarto ao lado…
·
A guerra com o padre da minha terra, porque o sino da igreja de S. Romão,
erguida a meia-encosta no vale que vai de S. Brás a Loulé, tocava, às horas, o
«Ave de Fátima» mesmo durante a noite.
·
A saudade, por vezes aliviada aqui ou ali, do toque das ave-marias ao
amanhecer, ao meio-dia e ao final da tarde, a pautar as tarefas agrícolas.
·
A surpresa, em Marrocos ou na Tunísia, quando, de repente, ecoava o convite à
oração proclamado pelo almuadem do alto da mesquita (agora já automaticamente
difundido por adequada aparelhagem sonora)
·
O costumeiro toque da sirene dos
bombeiros a lembrar que é meio-dia ou, como em Peniche, à uma da tarde.
·
O toque doutra sirene, a das fábricas, como se vê em filmes antigos, e as
mulheres a saírem de seguida, para a refeição ou para outra faina, a doméstica.
Os
toques, o constante tiquetaque de um relógio que marca as horas todas e não
apenas como aquele do Vasco, que estava parado. O incessante escorrer do tempo
e a inevitável frase de Michel Quoist:
«Tens
muito tempo à tua disposição, mas passas o tempo a perder o teu tempo».
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 740, 15-10-2018, p. 11.
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