Osga
era, para mim, bicho peçonhento,
pegajoso, que não mereceria viver. Hoje, deixo-as à vontade, até porque também
na garagem tive de guardar livros e pedi à osga-mãe que adestrasse as filhotas na
caça às traças, essas, sim, minhas inimigas figadais!
Surgiu-me
esta ideia das osgas porque o Celestino Costa tem uma figueira de estimação . Figos moscat éis
bem saborosos. Cortou-a por cima, para que alargasse, escorou as pernadas e,
assim, escusa de se empoleirar numa escada para apanhar os figos, que estão à
mão de semear, basta um cãibo!
No
entanto, se quer figos, tem de se levantar às quatro da madrugada, porque, às
cinco, já lá estão, na figueira, os melros, de bico forte, a picarem mesmo aqueles
figuinhos que ainda não estão bem maduros. Tudo lhes serve para se alimentarem,
agora que os campos outrora semeados e com vedações de valados cheios de
silvas, abrunheiros e murtinhos, só têm é casas e não lhes oferecem, portanto, o
farnel quotidiano.
Não
longe do Celestino mora o Clérigo, canteiro como ele, que lhe contou de uma das
suas admirações de não há muito. É que começou a ver, à noite, os pardais junto
à lâmpada do candeeiro de iluminação
pública ao pé de casa. Estavam à caça dos insectos que se sentiam atraídos pela
luz!
«Espantando os pardais» - José Malhoa (1904) |
Dantes,
encarrapitavam-se nas espigas de trigo ou de cevada e até os moços pequenos
eram mandados pelos pais em batuque de latas velhas para os assustar, imagem
que José Malhoa perpetuou no seu quadro de 1904, ou punham-se espantalhos em
figura de gente com roupas velhas e chapéu...
E
perorava Celestino, poeta-pensador, nos seus 85 anos:
˗˗
Agora, já não há quem semeie! E, se calhar, daqui a uns cem anos, os cientistas
são capazes de dizer que a dieta principal dos pardais era constituída por
insectos voadores!...
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 739, 01-10-2018, p. 10.
António Chéney
ResponderEliminarUma das coisas que aprecio é observar os filhotes ainda com penugem, que caem do telhado da minha avó, a serem comidos pelas formigas. Em 24 horas só ficam os ossos todos rapados.
Maria De Jesus Brito
ResponderEliminarOsgas, à volta do candeeiro do alpendre, temos muitas, cá pela Gralheira. São de estimação, pois livram-nos dos mosquitos! Pardais a comer insetos ainda não vi.
Vitor Barros
ResponderEliminarViva...
Eu por acaso sei o que é mas aposto que pouco gente saberá o que é um cãibo! Vai uma aposta? Abraço.