Declara
o Poeta que loengo «nasceu para a sede dos corpos sob a intensidade do calor»,
«uma delícia que arrepia», garantindo que «quem gosta nunca o esquecerá»…
Conhecemos
o pendor sensual da Poesia de Edgardo Xavier, «um lírico, no sentido pleno da
palavra. O amor – platónico, carnal, devorador… – enche-lhe as páginas, como,
real ou imaginariamente, lhe encherá por completo os dias» – escrevi em Agosto
de 2017. E, a propósito de um dos seus últimos livros, Escrita Rouca, comentei:
«Palavras poucas, medidas. Solilóquio quente,
apaixonado, de total entrega. E assim se mata a solidão. E assim se proclama um
erotismo suave, salvador – ainda que só de um dos amantes se oiça a voz! E que
voz!...».
Não
admira, pois, que Rita Pais, no prefácio, confidencie que a obra de Edgardo exerça
nela «um fascínio profundo, um quase voyeurismo inofensivamente perverso».
Assim é, na poesia; assim será na prosa.
Este
Loengo, portanto, promete. Desde
logo, essa ressonância da sua Angola natal, exótica, de avassaladores cheiros
fortes no final das tardes a prolongar noite adentro…
Editado
pela Modocromia, este livro de contos vai, sem dúvida, seduzir o leitor. E
volto a citar a prefaciadora:
«Cabe-nos
a nós, leitores ávidos deste Loengo que
me deixa marc as fundas como cicat rizes que se cuidam com a ternura que só o amor
conhece, usar a liberdade que, lendo-o, o autor nos permite para degustá-lo,
desfrutá-lo e amá-lo como, por direito próprio, merece».
Explica
o autor, logo no início, o que se passou: onde trabalhava deixou de ter
trabalho; sentia-se como que ‘na prateleira’ (para usar uma expressão do
dia-a-dia); daí ter começado a pensar, a inventar histórias, como que ‘para
passar o tempo’:
«Algumas dessas histórias e breves contos recentes
integram este livro. Não tenho compromisso com a realidade factual mas
projectei-me nalguns destes contos.
Nem
sempre sou rigoroso porque a magia e o sonho me arrastam para utópicas paragens
onde gosto de ficar. Sinto-me poeta mas ficaria feliz se o leitor me aceitasse
também como escritor.»
Aceitamo-lo.
81 contos, 81 perspicazes olhares em 234 páginas. Brevíssimos, lapidares, a
maior parte de uma página só. A ler de uma só assentada, porque não se resiste;
mas na vontade, sempre, de depois voltar atrás, para saborear o rigor da
observação , da frase, da… farpa!
Parabéns
ao Autor, escritor! Aplauso à Modocromia por ter aceitado o desafio!
José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal, 03-10-2018:
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