quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Um violoncelo de 1760!

             Um dos momentos altos do Concerto de Outono, com que a Filarmónica de Cascais nos presenteou na noite de sábado, 20, no Auditório Srª. da Boa Nova, foi a execução, na 2ª parte do serão, do concerto para violoncelo em si menor (op. 104, B. 191), da autoria do compositor checo Antonín Dvořák (1841-1904). Uma peça de extrema beleza, em que o diálogo entre a orquestra (nomeadamente as flautas e o clarinete) se desenrola mui graciosamente. Acontece, porém, que, tocando num lindo violoncelo datado de 1760 (!), saído do engenho ímpar do celebérrimo construtor de violinos, o napolitano Nicolò Gagliano, Romain Garioud, o solista convidado, demonstrou um virtuosismo incomparável, que a todos encantou.
            O auditório estava lotado e, no final, de pé, não se regatearam aplausos, a que Romain Garioud correspondeu com a execução de mais um trecho, que (diga-se) até os músicos da Sinfónica ouviram deliciados.
            Dirigida, como é habitual, pelo maestro Nikolay Lalov, a Orquestra brindara-nos, na 1ª parte, com a também célebre Sinfonia Incompleta (a nº 8, D759 em si bemol menor), de Schubert, e os variados trechos de Má Vlast Vltava, do checo Bedrich Smetana, um dos seis poemas sinfónicos com que, em espírito nacionalista, belamente retrata o seu país. «Má Vlast» significa «a minha Pátria» e Vltava é o rio Moldávia, cujo percurso, ora suave e deslizante, ora veloz e impetuoso por entre as fragas, facilmente fomos imaginando…
            Não poderia deixar de salientar ter visto estampada, no rosto dos músicos, no termo do espectáculo, a imensa alegria de terem participado. E escrevo «participado», porque não se limitaram a tocar, com o virtuosismo que se lhes reconhece, porque amiúde acompanharam num balancear e numa expressão de felicidade os sons que estavam a ouvir.

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal¸ edição de 22-10-2018:

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