
Um
dos momentos altos do Concerto de Outono, com que a Filarmónica de Cascais nos presenteou
na noite de sábado, 20, no Auditório Srª. da Boa Nova, foi a execu
ção, na 2ª parte do serão, do concerto para violoncelo
em si menor (op. 104, B. 191), da autoria do compositor checo Antonín
Dvořák (
1841-1904).
Uma peça de extrema beleza, em que o diálogo entre a orquestra (nomeadamente as
flautas e o clarinete) se desenrola mui graciosamente. Acontece, porém, que, tocando num lindo violoncelo
datado de 1760 (!), saído do engenho ímpar do celebérrimo construtor de
violinos, o napolitano Nicolò
Gagliano, Romain Garioud, o solista convidado,
demonstrou um virtuosismo incomparável, que a todos encantou.
O auditório estava lotado e, no
final, de pé, não se regatearam aplausos, a que Romain Garioud correspondeu com
a execução de mais um trecho, que
(diga-se) até os músicos da Sinfónica ouviram deliciados.
Dirigida, como é habitual, pelo
maestro Nikolay Lalov, a Orquestra brindara-nos, na 1ª parte, com a também
célebre Sinfonia Incompleta (a nº 8, D759 em si bemol menor), de Schubert, e os
variados trechos de Má Vlast Vltava, do checo Bedrich Smetana, um dos seis
poemas sinfónicos com que, em espírito nacionalista, belamente retrata o seu
país. «Má Vlast» significa «a minha Pátria» e Vltava é o rio Moldávia, cujo
percurso, ora suave e deslizante, ora veloz e impetuoso por entre as fragas, facilmente
fomos imaginando…
Não poderia deixar de salientar ter
visto estampada, no rosto dos músicos, no termo do espectáculo, a imensa alegria de terem participado. E escrevo «participado»,
porque não se limitaram a tocar, com o virtuosismo que se lhes reconhece, porque
amiúde acompanharam num balancear e numa expressão de felicidade os sons que
estavam a ouvir.
José d’Encarnação
Publicado
em Cyberjornal¸ edição de 22-10-2018:
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