domingo, 21 de outubro de 2018

Gente… queremos gente!

             «Algarviota» sou, confesso. Daqueles que são algarvios de nascença e que, um dia, daqui zarparam e não ligaram mais nenhuma ao seu terrunho. Não foi bem assim, mas quase. Trouxeram-me meus pais para Cascais no final da década de 40; por aqui fiz os meus estudos, constituí família. Por aqui, nasceram meus filhos e netos; aqui repousam meus pais. Meu irmão já nasceu cascalense. Só fui ao Corotelo, a Faro e a Olhão nas férias grandes, até ao 2º ano (actual 7º). Depois, as idas eram para funerais…
            A aposentação, a possibilidade de colaboração com o VilAdentro e este nosso Noticias de S. Braz permitiram-me, nos últimos anos, estar mais próximo. E o que me dói? A observação frequente de minha tia Esperança:
            – Aquilo, onde a Chica mora, é um deserto!
            É.
            Demasiadas casas de nossos antepassados fechadas e a ameaçar ruína, campos por cultivar; alfarroba, azeitona, amêndoa e até figo por colher!... Vendas que fecharam. Já não há padeiro nem arreeiro. Já buzinas se não ouvem nem tilintar de guizos dos rebanhos…
Sim, amigo, precisávamos de a acolher! Mas quem há aí que se disponha?...
            Sinto-me culpado, porque nada fiz para que este panorama se criasse. Quisemos, meu irmão e eu, entregar à Misericórdia uma nesga de terreno que herdámos na serra; custava mais a transacção – que viria a ser, na verdade, mais um encargo para a Santa Casa – do que pagar o IMI dela durante 40 anos! Desistimos. E mantemos a nesga com um pinheiro e uma alfarrobeira…
            Quanto me agradaria saber que se encaravam sérias iniciativas para trazer mais gente para a nossa S. Brás!...
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 263, 20-10-2018, p. 13.

2 comentários:

  1. Um retrato certeiro caro Zé, infelizmente é uma realidade em todo o interior do país, graças a um centralismo anacrónico, concentração de poderes e serviços que como consequência atraem, diria mesmo sentenciam as pessoas ao litoral, com todas as consequências sociais, ambientais e de saúde mental que isso acarreta.
    Gostaria também de ver um plano de Dinamização serrano, no caso do nosso Algarve das suas duas componentes (Barrocal e Serra que são duas entidades bio-geologicas distintas e complementares).
    Passaria por uma reorganização (com aquisição e mesmo expropriação onde se justificasse pelas características ambientais e outras de relevo) do território altamente fragmentado em pequenas parcelas que não servem para nada, reflorestação e medidas económicas de estimulo ao consumo local, no fundo o velho slogan pensar global, agir local, mas tudo isto acarreta mudanças, desafio de interesses instalados e o ser humano (e a nossa cultura conservadora em particular) resiste ao desconhecido, prefere a certeza em vez da hipótese, mesmo sendo a hipótese a certeza de sucesso e progresso, um abraço.
    MCM.

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    1. Plenamente de acordo, Amigo! Plenamente de acordo! Vamos continuar a insistir nessa direcção, porque (e eu acredito!)... água mole... Um abraço, grato pelo eco!

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