E dei comigo a meditar: são
imprescindíveis, por intrínsecas razões de segurança, estas esperas na pista do
aeroporto. Ai de nós se as não houvera! Mas, no dia-a-dia, não tem a espera uma
conotação sempre negativa, prenhe
amiúde de mui escusada ansiedade? Espera-se pelo autocarro, que vem atrasado;
espera-se pela consulta médica, que raramente é a horas e que, aliás, já foi marc ada há muito. Espera a mãe pelo nascimento do
filho: após os sete meses, se não antes, outro não é o pensamento habitual: se
virá bem, se será prematuro, se dá pontapés simpáticos…
Pronto. Afinal, precisei de chegar
aos 72, para me consciencializar que a espera é uma ciência; desesperar não
adianta e, também aqui, a serenidade deve imperar.
Neves... eternas? Ou também elas, tranquilamente, à espera de um sol mais quente, que, um dia, virá?... |
A 20 de Julho de 1969, Neil
Armstrong baptizou a região da Lua onde pousou com o nome de Mar da
Tranquilidade. Acho que fez muito bem e, se não foi sua intenção ensinar-nos que lá, a quase 400 000 quilómetros
da Terra, é a Tranquilidade que impera, bem poderia tê-lo dito e, sobretudo,
para nos ajudar a ter por lema a vontade de bem saborear o presente, o único
que nos é proporcionado para viver.
Assim, eu, agora, com duas horas e meia pela
frente. Sim, uma já passou e nem dei por isso! Envolto no mecânico e ‒
felizmente! ‒ monótono trabalhar dos reactores, vejo a neve a rendilhar de
brancura as agrestes e inacessíveis reentrâncias dos Pirinéus. Também ela
espera, paci ente, que o Sol caloroso
a venha afagar. Será um beijo mortal; mas é boa a imagem da vida! Que a espera,
afinal, acaba por ser vivificante!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 710, 15 de Junho de 2017, p. 11.
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