Povo
Começo pela
sardinhada que a Junta de Freguesia de Cascais (eu sei que se chama outra
coisa, mas, como não concordo, fica assim) ofereceu no Centro de Dia da Areia, quinta-feira,
dia 22. Toda uma emoção o povo a confraternizar, sem etiquetas, em torno de um
bom prato de excelentes sardinhas, sangria, batatas cozidas, salada a condizer.
Foi bonito de ver como aquele enorme punhado de jovens voluntários a todos
serviu, prontamente, de sorriso nos lábios. Gostámos de ouvir a Ermelinda
Cardoso declamara aquele poema em louvor de Cascais, de que ela tanto gosta
(como que a reviver antigos tempos do Grupo Cénico…); o Toy, como alguém dizia,
que lança os foguetes e corre a apanhar as canas... Foi bonito de ver a marcha
do Centro de Dia do Bairro do Rosário. Povo que é Povo nunca esmorece e
confraterniza hoje como se o mundo fosse acabar amanhã. Estiveram autarcas,
houve discursos de ocasião; mas a emoção de estarmos juntos, os velhos e os
menos velhos, a tudo acabou por suplantar, num clima sem igual!
«Santos no pátio»
Santo António a pregar aos peixes... |
Nossas Senhoras e, na parede, as fotografias das autoras |
Santo António teve direito a quadras e a lugar de muito relevo |
Na
sexta-feira, outra vez o pessoal da chamada 3ª idade a dar cartas, a dizer que
está ali prás curvas, que a vida são dois dias e que há sempre motivos para a
alegria nos inundar. Os utentes dos centros de dia da Santa Casa da
Misericórdia vieram mostrar, na sala que dá para o pátio interior da Rua da
Saudade, o resultado de muitas horas de ocupação: inúmeras imagens de Santo António,
por exemplo, para todos os gostos e quadras populares. E cantou-se. E
proclamou-se bem alto que «velhos são os trapos!» e que só não se ocupa quem
não quer, só não se mexe quem prefere lamuriar-se pelos cantos, num encostar-se
às paredes…
Maria do Céu Guerra
Maria do Céu Guerra: ao vivo, em fotografia e em busto |
Maria do Céu Guerra, agradece, emocionada e recordou os primeiros tempos do TEC |
No
Espaço TEC, uma nova exposição, devida, de modo especial, ao talento de João
Vasco, que, infelizmente, já pouco pode movimentar-se e se vê forçado ao
conchego do lar, mas nós sempre a pensarmos nele. Homenageou-se, desta feita,
Maria do Céu Guerra. Dei-lhe, claro, aquele abraço sentido, duma Amizade que
dura há tantos anos quantos o Teatro Experimental de Cascais tem. Carlos Avilez
recordou, com emoção (que se me perdoe a repetição, mas é que foi mesmo
assim!), os primeiros tempos, no Gil Vicente. E eu lembrei-me que íamos, com o
Correia de Morais, no final dos ensaios, buscar a Céu e demandávamos o
Estribinho ou, mais perto, o Luisiana Jazz Clube do Villas Boas (ao fundo da José
Florindo de Oliveira). Emocionámo-nos, claro, ao evocar esses difíceis anos 60, a Esopaida (a 1ª peça
que ousadamente se levou à cena), as cumplicidades, as constantes ameaças da
Censura… E sublinhou-se insistentemente o imprescindível papel que o Teatro
ocupa na sociedade. Emocionante, o testemunho de um dos ex-alunos da Escola
Profissional de Teatro.
Homenagem
muito digna a uma grande Actriz que, sem alardes, vai seguindo o seu caminho,
numa ternura imensa, que tão bem retratada está, por exemplo, no filme Os gatos não têm vertigens,
recentemente passado de novo na televisão, após o êxito que teve nas salas de
cinema. A Céu é assim: uma doçura, uma actriz de corpo inteiro, que Cascais e o
seu Teatro Experimental tiveram o privilégio de ver dar os primeiros passos, em
companhia do João Vasco, do Carlos Avilez, do saudoso Santos Manuel…
Concerto de Verão
E,
a concluir as emoções da semana, o Concerto de Verão no Boa Nova.
Nicolay
Lalov dirigiu com o rigor que lhe é reconhecido a Sinfónica de Cascais.
Escolheu desta vez o jazz como tema: Cole Porter («Salute para orquestra»);
Leonard Bernstein, West Side Story, com a soprano Zita Milene e o tenor Diogo
Pinto; de George Gershwin, «Porgy and Bess Suite» e, a preencher toda a segunda
parte, a fabulosa «Um Americano em Paris», que nos emocionou e via-se bem que
emocionou também os músicos, naquele impressionante bailado de braços a que os
instrumentos de corda (mormente os violinos) em tais circunstâncias obrigam.
José d’Encarnação
Publicado em Costa do
Sol Jornal [Cascais], nº 193, 28-06-2017,
p. 6.
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