terça-feira, 13 de junho de 2017

Há sempre um bom pretexto para poetar!

             Não haverá português algum – ou até ser humano mais ou menos culto – que não tenha ousado, um dia, fazer versos, alinhar umas rimas, a pretexto de um baptizado, de um namoro, de um convívio de amigos ou mesmo de chalaça em relação a alguém que, no grupo, por qualquer motivo se haja distinguido.
            Pois, ao remexer nos meus papéis, deparei com um caderno de folhas soltas, de papel pardo. 16 tinham cada uma um poema; a última era a ficha técnica, onde se fica a saber que – sob o título «Não há como beber uma golada para a frase ficar mais inspirada» – a Adega Cooperativa de Mangualde promovera, em 1992, um concurso de poesias alusivas ao vinho. José Costa e Virgílio Loureiro seleccionaram e organizaram a antologia, José Tavares ilustrou e a Vinidão editou, em Outubro de 1993, 1500 exemplares.
            Diz-se na badana que, com este caderno, a Associação dos Vitivinicultores Engarrafadores da Região Demarcada do Dão – VINIDÃO pretendia «iniciar uma homenagem aos poetas populares deste País, cuja sensibilidade está profundamente marcada, há séculos, pela nobreza de um produto de eleição como é o vinho».
            A iniciativa não terá tido seguimento; mas ficou este testemunho da inspiração de poetas de Viseu, Nelas, Mangualde, sempre em louvor do precioso néctar e das terras que o produzem:
             «Até no céu os Santinhos / disso tenho convicção! Tomariam os seus copinhos / Se lá houvesse vinho “Dão” – proclama José Lopes, sem hesitar.
            E se as recomendações para que se beba com moderação não faltam, José Amaral também não hesita em explicar algo que poucos de nós saberão:
 
            De Vilar Seco saiu
            Um homem com um papel
            Levava lá escrito
            A qualidade do moscatel
 
            Em Palmela se instalou
            José Maria da Fonseca
            No papel levava escrito
            A qualidade da cepa.

            Com adequadas ilustrações, é um caderno de que porventura se terão perdido quase todos os exemplares. O meu vou oferecê-lo ao Museu Ferreira de Castro, de Sintra, para que conste no seu espólio e assim possa ser apreciado por quem o desejar e, porventura, por quem, um dia, nele se inspire e queira lançar mão a idêntica iniciativa. Em prol do vinho ou doutro dos nossos produtos. Mas sempre em prol da Poesia!
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, edição de 13 de Junho de 2017:

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