Rivalidades
entre povoações vizinhas sempre as houve.
Poderíamos
encher páginas e páginas a contá-las de Norte a Sul do País.
Janes
criou, em 1938, a
Sociedade de Instrução e Recreio de
Janes e Malveira «com o objectivo de instruir, beneficiar e recrear os
associados»? Pois em 15 de Fevereiro de 1941 funda-se, do outro lado da
estrada, a Sociedade Familiar e
Recreativa da Malveira da Serra. Janes prepara corso carnavalesco? Malveira
também tem! Faro tem um clube de futebol a preceito? Olhão também tem de ter! E
a rivalidade entre os dois clubes foi sempre acirrada. Como entre o Benfica e o
Sporting. Como entre Guimarães e Vizela… Tantos, tantos!...
Entre Cascais e Lisboa
Cascais
também sempre quis rivalizar com Lisboa. Ou melhor, Lisboa sempre quis
rivalizar com Cascais, ciumenta desde que os reis começaram a vir aqui passar
férias e, com eles, a burguesia e a alta finança. Um espinho atravessado, desde
finais do século passado, na garganta dos mandantes alfacinhas…
No
entanto, como, apesar de tudo, Lisboa é cidade e é a capital e a sede oficial do
governo (ainda que muitos governantes habitem em Cascais, essa é que é
essa!...), manda quem pode e, por exemplo, quando se viu que o turismo, em que
Cascais foi pioneiro (e esse palmarés venha o primeiro a negá-lo!), era fecunda
fonte de riqueza, logo Lisboa pensou em liquidar a Junta de Turismo da
Costa do Estoril e procurar também obter «mais adequada» partilha dos dinheiros
provenientes da concessão da chamada Zona de Jogo… E ‘atirou’ ali para as
bandas do Ribatejo a sede de decisão da política turística para estas paragens.
Se já se viu
Eu
até nem sei muito bem onde é; mas Junta de Turismo acabou e as questões
turísticas do concelho de Cascais – se os presidentes do Município se não
impuserem – vão continuar a ser decididas lá longe, por quem, eventualmente,
até nem sabe que há grutas pré-históricas em Alapraia, um dos ai-jesus da Junta
de Turismo durante os (já longínquos) anos 60.
Pouco
antes do 25 de Abril, houve, até, discussão acalorada: que Costa do Estoril não
tinha sentido como designação : o que
seria bom era Costa de Lisboa e até
os arautos dessa teoria se apressaram a mandar fazer milhares de pastas com a
nova designação , pastas de que –
pecador que confessa é perdoado… – acabei por ser eu o único beneficiário,
porque as logrei recuperar do lixo!...
Universidade – uma
eterna rivalidade cascalense
Pronto,
as rivalidades do hóquei – de mui saudosa memória (olá, Padre Miguel!...) –
também se esvaíram, a partir do momento em que esse deixou de ser, na «linha»,
o desporto de eleição do Cascais, do
Parede, do Carcavelos, da Juventude Salesiana…
Agora,
a rivalidade é outra: uma Universidade! Cascais não é verdadeiramente Cascais
se não tiver uma Universidade! Pode ser de Saúde, de Tecnologia de Ponta, de
Astronáutica, de… qualquer coisa! Mas Universidade tem de ter, dê por onde der!
Nunca
me meteria, confesso, a fazer uma crónica sobre este tema, eu, que sou catedrático
aposentado de Coimbra, se – ao arrumar os meus papéis – me não tivesse caído de
uma das pastas documentação curiosa,
que passo a referir.
Em
carta que me foi dirigida, na qualidade (então) de presidente da Associação Cultural de Cascais, o Prof. Doutor Afonso de
Barros, na sua qualidade de «presidente da Comissão Instaladora» da Universidade
de Cascais, convidava-me a estar presente na sessão de apresentação desse projecto, a realizar no Dia do Município
de 1994, 7 de Junho.
Promotora
do projecto? A «EIA – Ensino, Investigação
e Administração , S. A., constituída
por Professores Universitários, Investigadores Científicos e Quadros Superiores,
associados ao Grupo Caixa Geral de Depósitos, ao Montepio Geral ao Entreposto,
e ao Banco Português de Investimento», «à Coba e à Ensinus, com a participação da Câmara Municipal de Cascais».
Propósito:
«na fase inicial, formar licenciados em Gestão de Sistemas e Informação , Gestão e Estratégia, Gestão Territorial e
Urbana e Gestão do Ambiente», a começar já no ano lectivo de 1994-1995.
Da
Comissão Instaladora, presidida, como se escreveu, pelo Prof. Catedrático
Afonso de Barros, faziam parte 9 personalidades, entre as quais Ana Benavente,
João Paulo Monteiro (catedrático), João de Pina Cabral (investigador principal)
e Joaquim Pina Moura (em representação
da C. M. Cascais). Entre os consultores científicos, chamaram-me a atenção os nomes de João Ferreira do Amaral (do ISEG) e
João Salgueiro (Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa), que
seria o Presidente da Assembleia Geral, tendo como vice-presidente o Dr. Artur
Santos Silva.
E
pronto. Está a notícia feita.
Quer
o leitor nomes mais sonantes? Quer cursos mais ajustados às necessidades do
dia-a-dia cascalense do que «Gestão Territorial e Urbana» ou «Gestão do Ambiente»?
Não, não é possível.
‒
Então e cadê a «Universidade de Cascais»?
‒
Sumiu!
‒
E essa tal de EIA sumiu também?
‒
Ná, não sumiu! Ponha o amigo «E. I. A. – Ensino, Investigação e Administração »
no Google e fica a saber da marosca
(passe o termo!). É que, neste caso, outra rivalidade funcionou: a de Oeiras!
Pois
é! Não houve Universidade de Cascais, mas houve a Universidade Atlântica, sediada
em Barcarena, nas instalações da antiga Fábrica da Pólvora! Cascais, à falta de
trunfos, perdeu a rodada!...
Vencido,
mas não convencido! E «Universidade» continua a ser palavra saborosa que mui
frequentemente se badala. A ‘internacionalíssima’ a instalar em Carcavelos, por
exemplo. E até já se aventou que as decrépitas estruturas do antigo Hospital
dos Condes de Castro Guimarães, no coração
da vila, poderiam vir a anichar pólo de Medicina da Universidade Católica!...
Bem
fez a Delegação da Cruz Vermelha:
nada de universidades! Uma Academia Sénior é o que é! E estão-lhe a abarrotar
ambas as secções. Qualquer dia, tiram-lhe o Sénior e põem «Academia da
Experiência» ou, mais ao jeito do facebook,
«Academia da Partilha dos Saberes». Nesse domínio, as rivalidades não contam:
dão ainda mais ânimo a continuar!
José d’Encarnação
Vítor Fialho 24/6
ResponderEliminarDe facto, o que conta é ter uma Universidade, nem que seja para aprender a fazer alfinetes.
Numa altura em que cada vez há menos alunos a ingressar no ensino superior público, quer-se apostar em algo tão nebuloso quanto a madrugada de D. Sebastião.
A oferta existente a 'meia dúzia' de km não chega? Ou será que são as notas do secundário é que não chegam para "ultrapassar" os km até Lisboa?!?!
Há que estabelecer prioridades, muitas delas esquecidas, esta da universidade, permita-me o desabafo, não é uma delas!
Margarida Lino 25/6 às 15:47
ResponderEliminarMeu querido amigo,
Tambm me disseram, há pouco tempo, no Museu Condes de Castro Guimarães, que o Hospital com o mesmo nome ia ser uma universidade. Fiquei curiosa e, como não tenho conhecimentos suficientes para poder avaliar a situação, vou ter que esperar para ver. Beijinhos!