Assim,
não se esquece que a escola começava a 7 de Outubro. Alude-se ao ciclone de 1941
e à seca de 1944, por ocasião da qual, para concitar a piedade divina, se
fizeram procissões à noite, de velas acesas, percorrendo os caminhos, cantando e
rezando.
Nesse
âmbito religioso, tiveram lugar de relevo, nas décadas de 40 e 50, as festas de
São Romão, celebradas no mês de Setembro, em que havia a venda dos «ramos» à
volta da igreja, o sempre apreciado fogo do artifício do Zé Gomes, o arraial
com baile e cavalhadas.
Na
véspera do Ano Novo e do Dia de Reis, a criançada, de balaio ou caixas de papelão
enfeitadas com flores e um santinho no meio, lá ia de casa em casa: «Quer
beijar o Menino Jesus, tia?». E recebiam em troca dois tostões, uma laranja,
uma filhó…
Célebre
era também a oficina do Ti Zé Mateus. Um mundo de sons, de cor, vida e trabalho…
O som da sineta. E o Tarzan, de pêlo
castanho e raso, que esperava pacientemente
que contassem até 3, com um figo na ponta do focinho, para o atirar ao ar,
apanhá-lo num fiaço e… comê-lo!...
A
2 de Fevereiro de 1954, dia da feira de São Brás, caiu um grande nevão.
Na
estrada dos Vilarinhos, a iluminação
era dada pela lâmpada que o António Galego rodava, com a ajuda de uma comprida
cana aberta na ponta em forma de funil.
Evocou-se
também a primeira vez que a acordeonista Eugénia Lima veio tocar no Lagar do
Domingos Uva, na Chibeira, com iluminação
a Petromax.
Na casa de
bicicletas do Simão, que depois se transformou em mercearia, ouvia-se, ao
domingo, o relato da bola e não poderá esquecer-se que ele tinha uma fábrica de
pirolitos, feitos com a água que, de burro, vinha da rocha da Gralheira.
Elementos
importantes na paisagem, os moinhos de vento: da Soalheira, da Fonte da Murta, do
Cerro do Botelho, do Malhão… E a azenha
da Fonte do Mouro…
José d’Encarnação
Publicado em Noticias de S.
Braz [S. Brás de Alportel] nº 269, 20-04-2019, p. 13.
Lembro-me muito bem desse nevão. O meu pai levou-me à feira e comprou-me uns brincos de ouro que ainda hoje tenho. Apesar dos meus sete anos de idade lembro-me muito bem. Quanto à escola eu frequentei a Escola Primária da Vila. É sempre bom recordar. Bem haja, por isso. Bjs.
ResponderEliminarUm dos habituais leitores comentou:
ResponderEliminar«Li com atenção e gostei, uma memória com tantas outras que não devem ser apagadas, numa região que ainda mantém bastante autenticidade; no seguimento do teu post envio esta noticia que me entristeceu e enfureceu mesmo ligeiramente, a acontecer será uma perda, um pseudo-desenvolvimento bacoco, barato, que já destruiu o litoral (destaque para o último parágrafo que acho surreal)».
A citada notícia pode ser acedida através do seguinte enlace:
https://barlavento.pt/destaque/sao-bras-de-alportel-quer-ter-praia-fluvial