quarta-feira, 1 de maio de 2019

As lembranças de há meio século

             Referiu-se, na passada edição, o almoço de confraternização que antigos alunos da Escola Primária dos Vilarinhos levaram a efeito a 11 de Agosto de 2002. Importa ver agora parte do verso do programa reproduzido, que Mina (Maria Helena Rodrigues) tão oportunamente connosco partilhou (bem haja!), porque aí vem referido todo um conjunto de evocações, que, para que conste, valerá a pena copiar.
            Assim, não se esquece que a escola começava a 7 de Outubro. Alude-se ao ciclone de 1941 e à seca de 1944, por ocasião da qual, para concitar a piedade divina, se fizeram procissões à noite, de velas acesas, percorrendo os caminhos, cantando e rezando.
            Nesse âmbito religioso, tiveram lugar de relevo, nas décadas de 40 e 50, as festas de São Romão, celebradas no mês de Setembro, em que havia a venda dos «ramos» à volta da igreja, o sempre apreciado fogo do artifício do Zé Gomes, o arraial com baile e cavalhadas.
            Na véspera do Ano Novo e do Dia de Reis, a criançada, de balaio ou caixas de papelão enfeitadas com flores e um santinho no meio, lá ia de casa em casa: «Quer beijar o Menino Jesus, tia?». E recebiam em troca dois tostões, uma laranja, uma filhó…
            Célebre era também a oficina do Ti Zé Mateus. Um mundo de sons, de cor, vida e trabalho… O som da sineta. E o Tarzan, de pêlo castanho e raso, que esperava pacientemente que contassem até 3, com um figo na ponta do focinho, para o atirar ao ar, apanhá-lo num fiaço e… comê-lo!...
            A 2 de Fevereiro de 1954, dia da feira de São Brás, caiu um grande nevão.
            Na estrada dos Vilarinhos, a iluminação era dada pela lâmpada que o António Galego rodava, com a ajuda de uma comprida cana aberta na ponta em forma de funil.
            Evocou-se também a primeira vez que a acordeonista Eugénia Lima veio tocar no Lagar do Domingos Uva, na Chibeira, com iluminação a Petromax.
            Na casa de bicicletas do Simão, que depois se transformou em mercearia, ouvia-se, ao domingo, o relato da bola e não poderá esquecer-se que ele tinha uma fábrica de pirolitos, feitos com a água que, de burro, vinha da rocha da Gralheira.
            Elementos importantes na paisagem, os moinhos de vento: da Soalheira, da Fonte da Murta, do Cerro do Botelho, do Malhão… E a azenha da Fonte do Mouro…

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 269, 20-04-2019, p. 13.

2 comentários:

  1. Lembro-me muito bem desse nevão. O meu pai levou-me à feira e comprou-me uns brincos de ouro que ainda hoje tenho. Apesar dos meus sete anos de idade lembro-me muito bem. Quanto à escola eu frequentei a Escola Primária da Vila. É sempre bom recordar. Bem haja, por isso. Bjs.

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  2. Um dos habituais leitores comentou:
    «Li com atenção e gostei, uma memória com tantas outras que não devem ser apagadas, numa região que ainda mantém bastante autenticidade; no seguimento do teu post envio esta noticia que me entristeceu e enfureceu mesmo ligeiramente, a acontecer será uma perda, um pseudo-desenvolvimento bacoco, barato, que já destruiu o litoral (destaque para o último parágrafo que acho surreal)».
    A citada notícia pode ser acedida através do seguinte enlace:
    https://barlavento.pt/destaque/sao-bras-de-alportel-quer-ter-praia-fluvial

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