Dizia-se «único» nomeadamente por
ser a primeira vez que a artista – para nós sempre recordada como vocalista dos
Madredeus, ainda que faça hoje mui brilhante carreira a solo – convidava para estarem
com ela três outras cantoras que, na verdade, assaz se coadunam com o estilo mavioso
a que Teresa nos habituou: Sara Tavares e Marisa Liz.
Difícil se apresenta, confesso,
escrever sobre o que, nessas quase duas horas, nos foi dado assistir, numa atmosfera
que muito tinha de espiritual – que me perdoe quem não acredita no espírito.
Acreditaria, estou certo, se se tivesse deixado envolver pelo magnetismo terno,
suave e quase místico que caracterizou a actuação
de Teresa Salgueiro. Foi a sua voz límpida, imaculada, sem pressas, sim; foi
também – e há que reconhecê-lo – a magia do ambiente, quer do que o publico se
viu «obrigado» a manter, quer, de modo especial, pelo que a produção soube criar, pela sobriedade das luzes e pela
exímia qualidade do som (a princípio, houve assim uma distracçãozinha, pareceu-me, e os instrumentos estavam com
vontade de se sobreporem à voz, mas foi sol de pouca dura)
Os músicos. Em perfeita sintonia com
a artista.
Deliciámo-nos com o veterano José
Peixoto, uma lenda, mestre sublime no dedilhar da guitarra, vindo também ele
dos Madredeus.
Óscar Torres, no contrabaixo,
emprestou aquela sonoridade cava que parece vir das profundezas, a acentuar o timbre
claro da voz.
Fábio Palma, no acordeão, em salpicos,
diríamos, daquele cantar que só o portuguesíssimo acordeão sabe emprestar (e
que bonito foi o diálogo entre ele e Teresa, no primeiro trecho com que fomos
obsequiados, após o alinhamento previsto!).
Rui Lobato foi-se desdobrando na
bateria, nas percussões e na guitarra e se, cada vez mais, a bateria deixou de
ser aquele instrumento a marcar o
ritmo, teve aqui – nos bem conseguidos arranjos com que todas as composições se
vestiram – um papel importante, no sublinhar sereno (permita-se-me o termo,
aparentemente contraditório), «cirúrgico», do que Teresa ia cantando.
Poderá parecer escandaloso dizer que
momentos altos foram os encontros, primeiro individuais, de Teresa Salgueiro
com Sara Tavares e com Marisa Liz, e, no final, a três (momento mui saboroso,
esse!). Mas foram-no. E tenho a certeza de que Teresa não se importará nada com
isso, porque o público bem compreendeu a enorme empatia que se gerou entre as
três artistas, o enorme prazer que tiveram em estar juntas a obsequiarem, com o
seu enorme talento, quantos tivemos a dita de as ouvir.
E foi mesmo uma dita, essa, que
dificilmente se esquecerá! Foi mesmo um concerto único, pleno de serenidade e
de emoção! Num outro mundo se viveu
ali – e não podemos deixar de estar gratos!
José d’Encarnação
P. S.: Fotos gentilmente
cedidas pelo Gabinete de Imprensa da Estoril-Sol. Bem hajas, Luís Paralta!
Publicado em Cyberjornal, 2019-05-22:
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