domingo, 4 de junho de 2017

O perfil do candidato autárquico – Considerações que datam de Abril de 1993!

                Ao proceder a arrumações dos papéis que, ao longo dos anos, vamos acumulando em pastas, na ideia de… «quando eu me aposentar, vou tratar disto», deparei esta semana com o recorte da pág. 8 do Jornal Notícia de 1 de Abril de 1993. Foi um órgão da imprensa local cascalense, dirigido por Joaquim Baraona. A várias personalidades da vila se puseram duas questões:
            ‒ Qual o perfil que traçava para o candidato ideal para a Câmara Municipal de Cascais?
            ‒ Dentro dessa linha indicava dois ou três nomes que em seu entender poderiam vir a ser bons presidentes de Câmara?
            Fui eu um dos interpelados e, ao reler o que então respondi, pareceu-me oportuno partilhar (como hoje se diz) ipsis verbis essas minhas opiniões – que, por sinal, mantenho, apesar de todos estes anos passados.

Paços do Concelho de Cascais
            Em funções jornalísticas, tive ensejo de contactar com todos os presidentes da Câmara Municipal de Cascais, desde os tempos do saudoso Engº António de Azevedo Coutinho (1962-1969), a quem se deve, em grande parte, o enorme surto urbanístico que Cascais então conheceu. Mas também me recordo ainda, da adolescência, de figuras como a de Raposo Pessoa e Vítor Novais Gonçalves. Após o 25 de Abril, também por empenho jornalístico, acompanhei de perto, durante vários anos, a actividade municipal, nomeadamente através duma presença assídua às sessões camarárias, então públicas todas elas (ou quase). Carlos Rosa e Helena Roseta foram também, enquanto presidentes, interlocutores afáveis, atenciosos e atentos.
            Estas singelas reflexões brotam, pois, desse intenso “convívio” e do espectáculo que se lhe seguiu – a que tenho assistido como cidadão, como candidato (que fui) à Assembleia Municipal, como jornalista e historiador da cultura e, também como responsável universitário por um curso de pós-graduação, curso onde, aliás, lecciono Comunicação Social.
            É unanimemente reconhecido que não é nada fácil a Câmara Municipal de Cascais. Poderá ser trampolim para outros voos políticos; mas não tem sido fácil. É uma Câmara grande, com muita gente. Uma Câmara supostamente rica e onde, supostamente também, se podem fazer grandes negócios. Não invejo, por isso, quem se deseje candidatar, porque será, à partida, tarefa difícil convencer o eleitorado e os seus funcionários que está ali para servir o bem comum e não os seus interesses ou os interesses dos amigos ou a política do seu partido. Mormente se, como assaz amiúde tem ocorrido, estivermos perante alguém caído aqui de pára-quedas, para usarmos uma feliz expressão popular.
            Sugiro alguém que seja natural daqui ou que em Cascais viva há longos anos e que, por isso, sinta esta terra como sua (no sentido nobre do termo), com as suas características, a sua história (que deverá saber).
            Alguém que saiba dialogar: com os colegas do seu Executivo (independentemente da sua cor política), com os funcionários (todos!), com a Comunicação Social (mormente a local e regional, sentindo-a como o eco da actividade camarária e o veículo privilegiado das ansiedades dos povos), com os munícipes (sem excepção)…
            Alguém com a humildade suficiente para criar equipa e distribuir pelouros (mesmo pela oposição) e suficiente orgulhoso para contrariar as «ordens» do partido que maioritariamente o apoiou sempre que elas não correspondam às suas convicções.
            Nem demasiadamente brando que se deixe manobrar nem dando-se ares de auto-suficiente (primeiro passo para que, mais tarde ou cedo, lhe tirem o tapete dos pés…).
            É um retrato ideal, claro. Isso, aliás, me pediram.
            Daí que ouse acrescentar: independente dos partidos políticos.
            Utopia? Gostaria bem que não.
            Nomes? Para quê? Se, nesta conjuntura, são os partidos que decidem, de acordo com a sua inefável estratégia eleitoral e, se for caso disso, até vão buscar um senhor a Bragança (sem qualquer desprimor para os brigantinos…), só porque isso serve às mil maravilhas os seus intentos! Ou será que alguém tem coragem para inverter a situação?

                                                         José d’Encarnação
 
Publicado em Jornal Notícia  [Cascais], edição de 1 de Abril de 1993.
 

1 comentário:

  1. Bom dia Professor,
    Lendo os seus escritos senti vontade de dizer (escrever) algo
    Gostei e concordo com os ditos.
    “O perfil do candidato autárquico…
    “interesses dos amigos ou a política do seu partido. Mormente se, como assaz amiúde tem ocorrido, estivermos perante alguém caído aqui de pára-quedas, para usarmos uma feliz expressão popular”.
    Mas: difícil é afrontar os interesses instalados, lembrar-se-á que nas últimas autárquicas um dos candidatos era de Cascais e o presidente da Assembleia era o José Jorge Letria, adiante…
    Oeiras tem nova revista cultural – e nós em Cascais? Eu seu e partilho a sua tristeza com o fim da nossa AGENDA, adiante…
    Um velhinho Bairro Operário, em Cascais
    “não houve da parte das entidades competentes o cuidado em consultarem um epigrafista”
    Não Houve nem há nunca, quiçá num bairro ou evento com nomes “estrangeirados”? vou continuar a encanzinar-me com esta cultura recreativa.
    Gosto de o ler e saber que é um munícipe praticante
    cumprimentos, Maria Helena

    ResponderEliminar