sexta-feira, 2 de maio de 2014

O comércio dos livros

            Confesso que hesitei seriamente no título a dar a esta crónica: será comércio, mercado ou… negócio?
            Não me refiro aos livros de poemas. Como não são, habitualmente, muito grandes e o número de exemplares a publicar não é elevado, muitos autores se abalançam a despender uns cobres em «edição de autor», mais para seu gozo pessoal do que na mira de obterem proventos que permitam ressarcir despesas feitas. Há, no entanto, exímios profissionais de publicação de antologias, em que cada autor é convidado a pagar um tanto (que não é tão pouco como isso…) para que o seu poema (ou dois ou três, conforme) venha a figurar nesse livro, cujos lucros redundam em proveito exclusivo desse editor, promotor de apresentações aqui e além, para as quais, a expensas deles, os autores são, naturalmente, convidados, sem que, porém, lhes seja entregue gratuitamente um exemplar sequer: se o pretender, tem de o comprar – e sem qualquer desconto! Teoricamente, é uma ‘mina’, ainda que os nossos poetas estejam a ver a marosca e já não caiam facilmente na esparrela.
          Refiro-me, sim, aos livros ‘científicos’, aqueles que docentes, investigadores e estudantes carecem mesmo de comprar para a sua formação inicial ou contínua. E, a esse respeito, perguntava-me um colega docente:
            «Já reparaste nos novos catálogos de livros das editoras internacionais? Livros normais em papel: de 90 a 120 euros; livros em ficheiro que permite uma única impressão em papel branco: entre 50 a 75 euros; ficheiro tipo ebook: 20 a 30 euros.»
             E comentava:
            «As bibliotecas, devido a este aumento tremendo de preços, começam a emprestar ebooks. Experimenta ver nas bibliotecas».
            E desabafava:
            «Cada vez mais a tendência ocidental é a de termos uma cultura elitista. Eu não consigo comprar um livro técnico por 90 euros, pelo que não me resta outra hipótese senão o formato digital!».
            Além desse, que já não é de somenos, outro problema se põe: esses livros digitais que durabilidade têm? Se faltar a energia, como teremos a eles acesso? E se a «nuvem» onde repousam for destruída por um doido qualquer?... E onde está a possibilidade de anotações à margem e aquela sensação única de sentirmos a macieza do papel entre os dedos?!...
 
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 637, 15-04-2014, p. 12.

 

 

1 comentário:

  1. Aurora Martins Madaleno comentou (e eu agradeço)2/5 às 22:49 :
    Continuo a gostar de ler livros em papel. A Sociedade Científica da Universidade Católica publica on-line a revista Gaudium Sciendi e eu leio-a; no entanto, alguns dos artigos acabo por os imprimir. O papel fica mais à mão, seja para ler, seja para guardar ou levar para os alunos e amigos.

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