Não me refiro aos livros de poemas.
Como não são, habitualmente, muito grandes e o número de exemplares a publicar
não é elevado, muitos autores se abalançam a despender uns cobres em «edição de autor», mais para seu gozo pessoal do que na
mira de obterem proventos que permitam ressarcir despesas feitas. Há, no
entanto, exímios profissionais de publicação
de antologias, em que cada autor é convidado a pagar um tanto (que não é tão
pouco como isso…) para que o seu poema (ou dois ou três, conforme) venha a figurar
nesse livro, cujos lucros redundam em proveito exclusivo desse editor, promotor
de apresentações aqui e além, para as quais, a expensas deles, os autores são,
naturalmente, convidados, sem que, porém, lhes seja entregue gratuitamente um exemplar
sequer: se o pretender, tem de o comprar – e sem qualquer desconto! Teoricamente,
é uma ‘mina’, ainda que os nossos poetas estejam a ver a marosca e já não caiam
facilmente na esparrela.
Refiro-me, sim, aos livros
‘científicos’, aqueles que docentes, investigadores e estudantes carecem mesmo
de comprar para a sua formação inicial
ou contínua. E, a esse respeito, perguntava-me um colega docente:
«Já reparaste nos novos catálogos de
livros das editoras internacionais? Livros norma is
em papel: de 90 a
120 euros; livros em ficheiro que permite uma única impressão em papel branco:
entre 50 a
75 euros; ficheiro tipo ebook: 20 a 30 euros.»
E comentava:
«As bibliotec as,
devido a este aumento tremendo de preços, começam a emprestar ebooks.
Experimenta ver nas bibliotec as».
E desabafava:
«Cada vez mais a tendência ocidental
é a de termos uma cultura elitista. Eu não consigo comprar um livro técnico por
90 euros, pelo que não me resta outra hipótese senão o formato digital!».
Além desse, que já não é de somenos,
outro problema se põe: esses livros digitais que durabilidade têm? Se faltar a
energia, como teremos a eles acesso? E se a «nuvem» onde repousam for destruída
por um doido qualquer?... E onde está a possibilidade de anotações à margem e aquela
sensação única de sentirmos a
macieza do papel entre os dedos?!...
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 637, 15-04-2014, p. 12.
Aurora Martins Madaleno comentou (e eu agradeço)2/5 às 22:49 :
ResponderEliminarContinuo a gostar de ler livros em papel. A Sociedade Científica da Universidade Católica publica on-line a revista Gaudium Sciendi e eu leio-a; no entanto, alguns dos artigos acabo por os imprimir. O papel fica mais à mão, seja para ler, seja para guardar ou levar para os alunos e amigos.