quarta-feira, 14 de maio de 2014

O senhor Z

            Poucas são as palavras portuguesas começadas por Z e isso sempre me fez espécie. Uma eu aprendi há muito: zângão! Era estranha, porque parecia ter dois acentos, mas não tem, porque o til não é acento.
            De outra também me lembro: zaragatoa! Quando me doía a garganta e as amígdalas cresciam e nem me deixavam engolir, minha avó enrolava uma compressa (ou algo que lhe fizesse as vezes) na ponta de um pau (seria?), embebia-a não sei em quê, uma mezinha caseira, e lá me esfregava as ditas e eu quase me engasgava com aquilo. Mas curava!
            Tive, porém, outro dia, o privilégio de me fazerem lembrar outra dessas palavras com z: zaranguitana. Ouvia-a, estou certo, em pequeno, e tenho a ideia de que se usava para significar um qualquer mecanismo mal enjorcado. Certo é que tem significado próprio e mostra-se uma no Museu Judaico de Belmonte. A legenda reza assim:
            «Peça de madeira, em forma de grande pião com ponte de ferro e eixo embutido na parte superior onde gira um volante suspenso por fio. Sécs. XIX-XX. 450 x 260 mm.
             Destinado a consertar pratos de cerâmica. Pertenceu a um ambulante conhecido por “Judeu”. Colecção da Família Carqueja Rodrigues».
            Pois era: usavam-na os amoladores que punham gatos na loiça partida!

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 184, Maio de 2014, p. 10.

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