No
que concerne a Portugal, poderia pensar-se que sempre foi Lisboa a «capital do
Reino». Só mui tardiamente isso acontec eu,
porém, até porque a comitiva real carecia de ir percorrendo o País para
administrar a justiça, para arrecadar as rendas (predominantemente constituídas
por géneros) e… para ver como é que o Povo vivia. Hoje, tal itinerância faz-se
de quando em vez, chama-se «presidência aberta »,
o presidente acaba por tentar sentir o pulsar da população ,
mas (peço desculpa se erro) daí resulta mais fogo de vista do que efectiva e consequente
transformação de atitudes. E a
capital continua… a capital! No que concerne à ‘governação ’,
acentue-se…
E
essa relatividade do termo, fácil é agora de sentir, no momento em que, por
exemplo, os comeres – ou, dizendo de forma erudita, a gastronomia (ou a
culinária) – ganham, dia após dia, foros de realeza, a reivindicar coroa, perante
a invasiva e uniformizadora globalização .
Já
o sentira, há dois anos, quando, ao virar da esquina, dei com um painel que
proclamava ser Santa Luzia (de
Tavira) a «capital do polvo». Corri a saboreá-lo num dos restaurantes e não me
arrependi, de facto. Dos tempos de Coimbra recordava eu toda a publicidade (e ferrenha
disputa) entre duas «capitais» da chanfana: Miranda do Corvo e Vila Nova de
Poiares (esta, «Capital Universal da Chanfana»!).
Não
me apercebera, porém, confesso, de que este movimento de capitalidade se
tivesse multiplicado tanto. E assim, quando, no primeiro fim-de-semana de Maio,
me desloquei a Tarouca para participar na apresentação
do episódio da série televisiva «Escrito na Pedra» dedicado ao Mosteiro de S. João
de Tarouca, pasmei! Tarouca declara -se
«Capital do Champanhe» (e eu a pensar sempre nos espumantes das caves da
Bairrada!...) e, perto, Moimenta da Beira, é, não a capital, mas «O Coração da Maçã»! E bem sugestivo mural, na rua mais
importante da vila, lá mostra a senhora – qual Eva em edénico jardim… – a dar doce
dentada na bem apetitosa e suculenta maçã.
Assim
o Povo reivindica – em prol de um viver mais sadio e de uma autenticidade
maior! Abençoado!
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 639, 15-05-2014, p. 12.
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