Medito
no que li e já reli. Paixão será? Amor? Partilha?... E estes olivais não param
de fugir!... O amante, porém, se se apressa é para ir ao encontro. Antegoza-o, imagina-o,
vive-o, descreve-o até…
Obcecação será.
De
viver em plenitude, na vontade ingente de sorver – não sôfrego, mas serena mente deleitado – o prazer de uma presença. «Corre
em mim tumultuada uma lava ardente que só em ti descobre rumo e apaga o tempo»…
Rumo.
Tempo!
Serão estas, decerto, duas das noções mais presentes nos poemas do Edgardo.
Serão estas, decerto, duas das noções mais presentes nos poemas do Edgardo.
Rumo:
– Caminhos: «Todos
os meus caminhos passam por ti. Quanto mais te vivo mais me encontro»;
– Veredas:
«Sem voz nem lei, andamos em veredas que não sei à procura de segredos»;
– Sulcos: «Sei-me
barco a marear uma agonia»…
Tempo:
– «Contigo
expulsei o tempo e me fiz rio», um rio que engrossa e anseia pelo mar;
– «Hiberno
quando me olhas pelo lado sereno do tempo».
Um e outro –
rumo e tempo – que urgentemente requerem a pessoa amada. Física, sensual,
idealizada quiçá, fonte que mata a sede («Bebo-te. Corres no meu deserto de
dunas e pedras até que floresço, aceso, na tua boca onde me perco e anulo»),
vinho que inebria («qual espuma de um vinho novo»), leito onde apetece ficar,
duna de pendor suave…
Vislumbro
além, na encosta , um colmeal ao sol.
Imagino as laboriosas abelhas na azáfama dos favos de mel. Curioso! Edgardo nem
pensa em animais, insectos mínimos que sejam, a beijar pólen fecundo. Não! Seus
carreiros, seus valados de pedra solta («há calor e sons surdos a gemer pelos
valados») inexoravelmente o arrastam, no êxtase físico e espiritual por que se
anseia. «Crescem serenidades nos teus olhos»! «Aprendi que era magnífico o ar
com os aromas do prado; que o sabor da tua boca era de mar e frutos silvestres».
Um lirismo
denso, intenso, sentido; sem paroxismos; num erotismo saboreado: «Fecho os
olhos e, intencionalmente cego, guardo-me inteiro, para viver as tuas palavras»;
«de pensar te faço corpo». O corpo, um corpo que se percorre. Sem pressas
nenhumas: «A pressa apaga a paisagem e mata o encanto. Por isso te amo melhor
em dias preguiçosos».
Neste meu rumo
ao Sul de hoje, deixo-me embalar… Respigo, aqui e além, frases reveladoras:
«Quem ama
pedras e formas pode tornar-se escultor. quem te ama cega para o resto do
mundo»
… para lá da vida
e da morte
até à
ressurreição do amor!
A sedução de voltar ao princípio. Vou reler, uma e outra
vez. Na viagem de regresso. Quero a limpidez do azul. E a fecundidade imensa do
silêncio!...
Rumo ao Sul, terça-feira, 10
de Dezembro de 2013
Prefácio ao livro, de Edgardo
Xavier, Azul como o Silêncio (Chiado Editora, Lisboa, 2014, p. 7-8), que apresentei, na Galeria
Municipal Artur Bual (Amadora), a 12-05-2014.
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