terça-feira, 13 de junho de 2017

Rapsódia de… murros no estômago! (2)

             Acho que não pode haver um primeiro sem que, pelo menos, um segundo se apresente. Assim, recordo que, na passada edição, eu fora ao baú dos «assuntos pendentes» e decidira retirar de lá os primeiros murros – e aqui vão agora alguns mais.
            2 – A carta de João Tordo ao pai Fernando, publicada a 19 de Fevereiro de 2014, donde recorto:
            «Os nossos governantes têm-se preparado para anunciar, contentíssimos, que a crise acabou, esquecendo-se de dizer tudo o que acabou com ela. A primeira coisa foi a cultura, que é o património de um país. A segunda foi a felicidade, que está ausente dos rostos de quem anda na rua todos os dias. A terceira foi a esperança. E a quarta foi o meu pai […].
            3 – Entretanto, na terceira semana de Maio, começou a falar-se por aí na hipótese de proibir os jovens de emigrar. E dei comigo a exclamar alto:
Partir, partir, partir!...
            «Olha! Acordaram agora! Gente dorminhoca, esta! Então não repararam já, há muito, que não há família portuguesa que não tenha um dos seus jovens a trabalhar no estrangeiro? Escrevi «trabalhar», não «estudar» – para não se confundir com a maravilha do Programa ERASMUS, ora a comemorar os seus 30 anos de mui frutuoso funcionamento. Proibir? Voltamos ao Antigo Regime, é? Não seria preferível garantir que tudo se iria fazer para que os jovens recém-licenciados e os outros ficassem por cá?».
            Nunca pensara eu que tal pudesse acontecer comigo; mas confesso que já não sei em quantos países tenho agora familiares: no Reino Unido, em França, no Qatar, no Canadá, no Brasil, na Austrália, na Islândia, na Escócia, na Suécia… Eu sei lá!
            4 – Termino, sem comentários. Escreveu Pedro Afonso, psiquiatra no Hospital Júlio de Matos (jornal Público, 19-09-2013):
            «Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos. […] Interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas, porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas, esquecendo que a sociedade é feita de pessoas».

                                                           José d’Encarnação          

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 709, 1 de Junho de 2017, p. 11.

3 comentários:

  1. Carla Santos Brito
    Bem... tão esclarecedora matéria, é mais uma sinfonia de desencantos!

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    1. «Sinfonia de desencantos» - muito bem pensado, Carla, muito bem pensado! Bem haja!

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  2. Margarida Lino
    Meu amigo, depois desta crónica, só posso enviar-te um abraço! Bj!


    Gosto
    · Responder · 22 h.




    Carla Santos Brito




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