Constitui a Ribeira das Vinhas o mais significativo curso de água do concelho de Cascais. Para o seu encanto contribui não o facto de ter sido encanada, no trecho final, de forma a desaguar, quase despercebida, na Praia dos Pescadores, junto ao Palacete Seixas, mas sim a beleza ímpar das suas margens, sobretudo para montante do Bairro S. José.
Cientes dessa maravilha, têm promovido o Grupo Ecológico de Cascais e a Agência Cascais Natura caminhadas ao longo do seu leito, a fim de todos facilmente se aperceberem da biodiversidade vegetal e animal ainda ali existente.
Uma das iniciativas que nunca será de mais elogiar foi a criação do Parque das Penhas do Marmeleiro, a nascente de Murches, que tem página no facebook. Mui agradável equipamento de lazer, de que a população deveria usufruir ainda mais, até para que – com maior frequência das gentes – aos patifes fossem proporcionadas menos oportunidades de dar livre curso às suas pulsões destruidoras. Talvez também assim, com mais assíduos frequentadores, os responsáveis lograssem obter meios para tornarem operacionais os apetrechos da criançada, implantados (mal) em plataforma encharcada.
Por aí a ribeira não é «das Vinhas» mas «do Marmeleiro», por ser esta árvore outrora abundante no vale.
Resulta, de facto, do casamento ente a Ribeira do Pisão e a da Penha Longa, cujas bacias hidrográficas ressumam a plagas mediterrânicas…
As quintas
Esquece-se amiúde que Cascais não é apenas o litoral e que não foi apenas na 2ª metade do século XIX que os nobres descobriram – com os reis – as maravilhas cascalenses. Já muito antes, designadamente junto aos cursos de água, se haviam instalado ilustres famílias, que, a par das delícias do clima, usufruíam da fecundidade da terra, que diligentemente cultivavam: pomares, produtos hortícolas, vinha, olivais… Não se chama «das Vinhas» a ribeira? Sem já falarmos de azenhas e pisões…
Até, pois, ao lugarejo Rio Marmeleiro, tudo eram quintas por aí acima. Bem cuidados socalcos sustinham as terras e o húmus fecundante.
A recuperação da Quinta do Villar
A Quinta das Patinhas – a confinar, agora, pelo sul, com a 3ª circular – era uma delas. Com sua casa «senhorial» à boa maneira das mansões da época, teve como proprietário Armando Penim Villar, cascalense notável inteiramente dedicado à causa pública. Ultrapassou a provecta idade de cem anos e manteve até final sadio espírito de serviço. Deve-lhe muito a Sociedade Propaganda de Cascais assim como a Santa Casa da Misericórdia, de que foi provedor largos anos.
Este seu espírito de serviço soube transmitir ao neto Ricardo, antigo aluno salesiano, que, tendo herdado parte da quinta, resistiu à tentação de propor para ela um plano de urbanização (saborosamente e com jeitinho ali ficava um condomínio de luxo, como os que lhe prantaram no cimo!...) e decidiu meter ombros a obra meritória: ressuscitar a vocação agropecuária do lugar, dedicando-a, de modo particular, à pequenada. Galinhas, coelhos, gansos, patos, perus, ovelhas, burros, cabras… são, para além da abundante e vária passarada que por ali nidifica e vive, os habitantes desta arca de Noé em ponto pequeno. Depois, as árvores (devidamente identificadas) e toda a sorte de produtos hortícolas, cultivados à moda antiga. Há um aeromotor que tira água dum poço, mas também se mostra velhinha nora, que a criançada pode pôr a funcionar, assim como adestrar-se no estranho manejo da picota…
A vista virtual – www.quintadovillar.com – constituirá, sem dúvida, seguro aliciante para uma visita ao vivo! Vale a pena!
Post-scriptum: Pode fazer-se também uma curta visita de helicóptero: http://www.youtube.com/watch?v=9lNgyLzrHWY&feature=youtube_gdata
[Publicado no Jornal de Cascais, nº 304, 07-03-2012, p. 6].
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário