Há frases a que nos habituamos,
ainda que, em determinados momentos, elas adquiram um significado muito mais
preciso e… menos brincalhão. Ou seja, dizemo-las amiúde, sempre em jeito de
brincadeira, que o português – e, de modo muito especial, o algarvio… – não
perde ocasião de mangar, na hora de arredar pensamentos sombrios. Os tempos de
hoje lembraram-me duas.
– Ó homem, pareces-me um entroncho!
Nos dicionários vem entroixo ou entrouxo, sendo troncho, como provincianismo,
sinónimo de «homem desajeitado, brutamontes»; contudo, no Algarve, significa
quem está mal vestido, uma farpela por cima da outra, sem jeito nenhum.
E não é que os entronchos ora, por necessidade, se multiplicam!....
–
Bolas! Nem dizes «Arroja, galego!».
Usa-se quando alguém ataca um prato,
tamanha a fome, que nem espera pelos demais. Sempre me causou estranheza o
dito, até porque arrojar terá o sentido de ‘aventura r-se’,
‘fazer-se à vida’. No entanto, o mais curioso é, ainda, a relacionação com o galego, remontando, sem dúvida, ao tempo
em que houve significat iva migração de galegos para o nosso país e lhes eram
entregues as tarefas mais difíceis. Daí a expressão «trabalha que nem um
galego!» ou outra, «espera galego», que é a espera que nunca mais acaba…
Estamos nessa! Galegos… ou não!
Publicado no mensário VilAdentro
[S. Brás de Alportel], nº 159-160 (Abril-Maio 2012) p. 10.
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