quarta-feira, 13 de março de 2019

Empolgante!

           
Teve lotação esgotada o Auditório Senhora da Boa Nova, sábado, dia 9, por ocasião do Concerto de Primavera levado a efeito pela Orquestra Sinfónica de Cascais.
            E havia razão para isso! O programa previsto era de molde a interessar mesmo os que não são visceralmente melómanos. Explicou o maestro, Nikolay Lalov, que, comemorando-se, no próximo ano, os 250 anos sobre o nascimento de Ludwig van Beethoven e esperando-se que, nesse ano, muitos concertos se executarão com obras do compositor, a Sinfónica de Cascais decidiu antecipar a comemoração, integrando neste concerto duas das suas peças mais significativas: a Sinfonia nº 5 em Dó Menor (op. 67) e a Fantasia Coral também em Dó Menor (op. 80), em que intervieram o Coro Sinfónico «Lisboa Cantat» e o renomado pianista Pedro Burmester.
            Utilizei para título desta nota o adjectivo «empolgante!» e tenho a certeza de que não exagerei, porque foi essa – não tenho dúvida! – a sensação dominante de quantos tivemos o privilégio de assistir: empolgados!
            Excelente, a interpretação de todos, tanto na 1ª parte, como, de modo especial, na 2ª, em que foi, na verdade, empolgante o diálogo entre piano e orquestra. Só visto e ouvido! Parabéns, parabéns, parabéns!
            E dei comigo a pensar, voltando à 1ª parte: quando se escuta uma sinfonia como esta, poderá acontecer que apenas nos deixemos enlevar pelo diálogo entre os vários instrumentos; contudo, a diversidade dos movimentos, a intervenção ora de um ora de outro dos naipes levam-nos seguramente mais além: projectam-nos não para os ruídos urbanos mas para uma existência no campo, no contacto com a Natureza e os seus elementos… Sussurra o vento nas árvores, murmuram as águas no pequeno regato ali ao pé, há de longe em longe o pipilar das aves e até aquela nuvem negra que corre no ar deve ter impressionado grandemente o compositor, que tudo transpôs, imagino eu, para as pautas.
            Invenção minha, quiçá, mas será porventura difícil saborear, ou simplesmente ouvir, música sinfónica, sem nos deixarmos transportar para essoutro mundo… Não o das pressas urbanas, onde até um relâmpago se despe, o trovão estala aterrador e nem se compreende o atrevido namoro do mar acariciando falésias…
            E tudo programado ao segundo, numa perícia sem par!
            Empolgante, sim, é o adjectivo certo. Saímos de alma cheia (passe o lugar-comum). E damos graças por Cascais ter tido a inteligência de apoiar uma orquestra sinfónica. Parabéns!


                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal. edição de 11-03-2019:

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