quinta-feira, 9 de abril de 2020

A força do poder autárquico

            Mandar pôr a bandeira a meia haste em sinal de luto pela primeira vítima cascalense do vírus que nos assola e, também, por todos os que têm sucumbido poderá parecer um acto menor.
            Não creio.
          Simboliza, para além do mais, a presença do poder autárquico e constitui a prova do que amiúde se proclamava mas nunca deveras se sentira: são os executivos das câmaras municipais e das juntas de freguesia que estão mais perto da população, que sentem os seus anseios, que – se lhes derem meios – melhor e mais eficazmente os podem satisfazer.
            Mais uma vez, Cascais está na linha da frente desse combate e soube ocupar a posição que o Governo central não poderia. A comunicação diária do Presidente aos munícipes a dar conta do que se está a fazer, e como, mostra bem o que deve ser essa imprescindível política de proximidade.
            Nunca como nestes dias se viram nas televisões tantos nomes de presidentes de Câmara ou de Juntas de Freguesia a pugnar pelos seus munícipes e fregueses. Nunca como nestes dias se arvorou bem alto o que Cascais há muito arvora: as pessoas em primeiro lugar!
            Muito há, pois, para nos congratularmos.
            Todos estamos plenamente conscientes que vai haver um d. c., «depois do corona».
            Mudará seguramente o nosso modo de vida, porque já é um encanto olhar para além do mar e ver, nítido, a sul, o Cabo Espichel, porque drasticamente diminuiu a poluição atmosférica.
            Já começamos a ter noção mais clara do que é ser vizinho e da necessidade de haver os contactos de uns e outros, não para andarmos metidos em casa alheia, mas para sabermos se está tudo bem e comunicar no momento em que se dá conta de alguma anomalia.
            Já começamos a saber responder ao «bom dia!», à «boa tarde!».
            Quanto estranhava, até há pouco, quando, no passeio pelo bairro com o Spike, eu saudava quem se cruzava comigo e nenhuma resposta eu recebia. Agora, não! Até o condutor do autocarro se saúda, por se reconhecer o seu labor social, o seu espírito de serviço. Justamente isso me chamou a atenção em Londres: saudava-se o motorista ao entrar no autocarro, ele respondia num sorriso, e agradecia-se-lhe ao sair e ele correspondia!
            Uma palavra ainda para a Comunicação Social local e regional.
            É nestas ocasiões que o seu papel se mostra imprescindível. Uma rádio local que nos mantenha informados, um jornal que supra as mil e uma mensagens que nos atafulham o telemóvel e nós queremos é saber do nosso concelho, da nossa terra!
            O director de um dos jornais a que mui gostosamente dou colaboração pensou em suspender a publicação, devido a não existirem eventos a noticiar nem publicidade que o mantivesse. E o executivo camarário impôs-se: «Não, senhor! Publica, pois! Nós ajudamos!».
            Vamos tendo máscaras, centros de diagnóstico, alojamento em hotéis e alimentação para o pessoal da linha da frente, graças à forte colaboração de todos. Rapidamente, os técnicos alteraram as linhas de produção para satisfazerem as necessidades prementes…
            Vamos levar a embarcação a bom porto!

                                               José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 321, 2020-04-08, p. 6.

1 comentário:

  1. Gosto deste entusiasmo do repórter" na saudação do que de positivo se vem fazendo no concelho (e é louvável) no aceno do condutor do autocarro, ou no bom dia que era habitual, há muitos anos, nas relações de proximidade e se perdera. Será um d.c. a esboçar-se e todos queremos, como sugere este belo texto, que seja límpido como a vista agora nítida do Cabo Espichel.

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