quarta-feira, 3 de agosto de 2011

José Ribeiro Ferreira

Completou 70 anos, no passado dia 23, o Doutor José Ribeiro Ferreira, catedrático de Estudos Clássicos, que terá sido docente de muitos dos estudantes que, ao longo dos últimos 40 anos, passaram pelos bancos da Faculdade de Letras de Coimbra. Cumpriu, por isso, no dia 6, o ritual da sua «última lição», em que historiou a atribulada vida de Édipo, «um mito tirânico que não nos deixa e nos subjuga». A sua ideia era mostrar-nos que «o conhecimento técnico e o poder degradam e o sofrimento redime», mas… o desgraçado do Édipo não se redimiu!
Contudo, se hoje me refiro ao Colega e ao Amigo, é fundamentalmente porque ele soube aliar, de forma notável, a investigação histórica sobre a Grécia antiga, a democracia ateniense, com a arte poética, de tal modo que são quase tantos os livros de Poesia que escreveu como os resultantes da sua perspicaz análise dos textos e dos vestígios antigos.
No jantar de homenagem, distribuiu aos participantes O Caminho e a Escolha, livro ilustrado com fotografias colhidas nas ruínas de Éfeso, síntese do que foi sentindo ao longo da sua caminhada como docente, que se poderá, talvez, consubstanciar-se em três dos versos, que, aliás, por ali se vão repetindo:

Dar-se.
Dar-se inteiro sem pensar em quem ou em si.
Denso, dócil… Nos gestos, nos atos, nas palavras.


Dele tenho lido – para além dos textos sobre a Grécia (tinha de ser, porque éramos ambos docentes da mesma cadeira de História da Antiguidade Clássica!) – os livros de poemas e, destes, apreciei um dos últimos: As Gaivotas, edição de autor, Coimbra, 2009, com fotos de Inês Cerol. Lindas, as fotos, tomadas, a maior parte, em Lagos, cidade que, pela madrugada, com a algazarra das gaivotas acorda. Serenos, os versos:

«Se fôramos gaivotas, amada minha, as longas asas de aconchego acolheriam o espesso passado de ternura e desencontros» (p. 89).

O saber antigo, o olhar atento, a comunhão com as pessoas, os animais, o Universo, enfim! – na total dimensão humana!...

Publicado no quinzenário Renascimento [Mangualde], nº 575, 01-08-2011, p. 13.

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