Pois
estava eu a atiçar o fogo no lenho da alfarrobeira velha na chaminé, quando
adreguei olhar para a espeteira que já vem do tempo de minha avó Bia dos
Santos. Lá se mostram, impantes, os tachos de esmalte pintado, ao lado dos
cobres que minha tia Chica traz sempre areados, num brinquinho…
«Espeteira»?
Há ‘séculos’ que a palavra não me ocorria e fui ver o que é que o Torrinha
dizia. Lá estava: «Gancho nos tabuados das cozinhas, louceiros, etc., para pendurar
carne, vasilhas e outras coisas». Não é bem a mesma coisa, acho eu, pois para
nós a espeteira tem ganchos, mas é assim como que uma estante, só que não dá
para os livros e tem uma ripa em cada prateleira, para segurar o trem da
cozinha (Uau!... Esta do ‘trem’ está bem vista!...). E nada de pendurar lá a
carne, se já se viu!...
Escreveu
Fialho de Almeida, n’Os Gatos: «Um
povo que defende os seus pratos nacionais defende o território. A invasão
armada começa pela cozinha». Orgulha-se São Brás de ser paladino da chamada dieta
mediterrânica e de ter no seu Museu e também no pólo de Alportel a
reconstituição da cozinha tradicional. De facto, neste tempo em que tudo,
vertiginosamente, corre à nossa volta, apetece mais o quente e sereno aconchego
desse recanto familiar – com a espeteira, cordão umbilical das nossas memórias…
José d’Encarnação
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 205, Fevereiro de 2016, p. 10.
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